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quarta-feira, agosto 19, 2009

ÍNDICE GERAL

terça-feira, agosto 18, 2009

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO - ÍNDICE



INTRODUÇÃO

HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA - 5 a.C. - 590 a.C.

O Avanço do Cristianismo no Império até 100

HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ

I - PRINCIPAIS PERÍODOS, TEMAS E PERSONALIDADES

terça-feira, junho 02, 2009

INÁCIO - BISPO DE ANTIOQUIA

INÁCIO -(TESTEMUNHA DA FALSIDADE DO EVANGELHO CONTEMPORÂNEO). Há uma evidente impossibilidade em encaixar a teologia do “prosperidade” não apenas na Bíblia, mas na história da igreja com seus mártires e perseguições atrozes que verdadeiros cristãos sofreram.
INÁCIO - bispo de Antioquia, que foi devorado por bestas feras no Coliseu .Ele aparece nas páginas da história já como o bispo de Antioquia, que nessa ocasião era uma das maiores cidades de Roma.
Inácio fora discípulo dos apóstolos Pedro e João. Aprendera desses mestres competentes a sublime ciência do amor de Deus, que fez dele um dos pilares e ornamentos da Igreja Primitiva. Depois dos apóstolos, ele foi um dos homens mais notáveis da igreja; seus contem­porâneos, e os pais que viveram nos três séculos seguintes, mencionam-lhe o nome com a maior reverência. Policarpo e Crisóstomo fizeram dele o objeto de seu mais eloqüente panegírico. Após uma vida de mais de cinqüenta anos no episcopado de Antioquia, aprouve ao Todo-Poderoso chamá-lo a receber sua coroa, por uma morte que deveria ser uma glória e um modelo para a Igreja. A história de seus labores e virtudes não foi escrita, mas todas as particularidades de sua morte foram registradas por testemunhas oculares. e distribuída em várias igrejas; por isto seus Atos são os mais autênticos na história do passado. O documento original, escrito em grego, acha-se preservado, e foi publicado por Ruinart, em Paris, em 1690. A cena de seu martírio começa, de acordo com a melhor autoridade, no ano 107 de Nosso Senhor. Trajano tinha nas mãos o cetro dos césares, e Evaristo sentava-se na cadeira do papa. A tempestade que atacara a Igreja durante o reinado de Domiciano fora acalmada. Relatam os historiadores que Trajano não amava naturalmente o derramamento de sangue, e possuía um sentimento de humanidade mais nobre que todos os imperadores que o precederam; era, no entanto, covarde e escravo da opinião pública. Ele reprimia os próprios sentimentos para favorecer o gosto brutal da plebe. A fim de ganhar popularidade, e sob o pretexto de devoção aos deuses do Império, dava continuidade, de tempos em tempos, às horríveis cenas de perseguição aos inofensivos cristãos. Inácio foi uma de suas vítimas.
No oitavo ano de seu reinado, Trajano obteve uma gloriosa vitória sobre Decébalo, o rei dos dácios, e anexou todo o seu território ao Império Romano. No ano seguinte, assentou uma expedição contra os partos e os armênios, aliados dos dácios. Chegando a Antioquia, ameaçou com as mais severas punições todos aqueles que não sacrificavam aos deuses. Os labores e as pregações do venerável bispo desta cidade fora tão coroado de sucesso, que a igreja florescera, e deixara de ser uma desprezível comunidade de uns poucos indivíduos. Os pagãos viam com maus olhos a igreja crescendo à sua volta, e aproveitaram a presença do imperador para pedir a sua extinção. "O magnânimo campeão de Jesus Cristo" dizem os Atos de Inácio, "receando que sua igreja se transformasse num cenário de massacre, voluntariamente entregou-se em suas mãos, (.vara que saciassem nele a sua fúria, salvando assim o rebanho"'.
Ele foi imediatamente conduzido à presença do imperador, e acusado de ser o cabeça e promotor do cristianismo na cidade. Trajano, assumindo um tom arrogante e desdenhoso, dirigiu-se ao idoso bispo, que se mantinha destemido perante ele, com estas palavras: - Quem és tu. espírito ímpio e mau, que te atreve não somente a transgredir nossas ordens, mas também a aplicar-te em carregar outros contigo para um fim miserável?
Meigamente, Inácio replicou: — Os espíritos ímpios e perniciosos pertencem ao Inferno; eles nada têm a ver com o cristianismo. Tu não podes chamar-me de ímpio e mau. quando levo no coração o Deus verdadeiro. Os demônios tremem à simples presença dos servos do Deus a quem adoramos. Eu tenho Jesus Cristo, o Senhor universal e celestial, e Rei dos reis. Pelo seu poder, posso pisar todo o poder dos espíritos infernais.
— E quem é que possui e carrega seu Deus no coração? — indagou Trajano.
— Todos os que crêem no Senhor Jesus Cristo, e o servem fielmente — foi a resposta daquele homem santo,
— Então não acreditas que também carregamos dentro de nós os nossos deuses imortais? Não vês como eles nos favorecem com o seu auxílio, e que grande e gloriosa vitória obtivemos sobre os nossos inimigos?
—Vós estais enganados ao chamar de deuses aquelas coisas que adorais — replicou Inácio, majestosamente. — Eles são espíritos amaldiçoados; são os demônios. O Deus verdadeiro é apenas um, e foi Ele quem criou os céus, a terra, e o mar, e tudo o que existe. E apenas um é Jesus Cristo, o Filho primogênito do Deus Altíssimo, e a Ele eu oro humildemente, para levar-me um dia à possessão do seu reino eterno.
— Quem é este Jesus Cristo? Não é Ele que foi posto à morte por Pôncio Pilatos?
— E dele que eu falo — volveu Inácio. — Ele, que foi cravado na cruz, que aniquilou o meu pecado e o inventor do pecado, e que, pela sua morte, pôs sob os pés daqueles que devota-mente o levam no coração todo o poder e malícia dos demônios.
— Então carregas dentro de ti este Jesus crucificado? — Perguntou o imperador com um sorriso sarcástico.
— Assim é — afirmou Inácio. — Porque Ele nos diz em sua santa Escritura: "Neles habitarei e andarei entre eles" (2 Co 6.16).
Por um momento, Trajano silenciou; pensamentos conflitantes passaram-lhe pela mente. Estava ansioso para ouvir mais sobre a religião dos cristãos, e tocado pela venerável aparência u servo de Cristo, esteve para mandá-lo de volta ao seu povo com uma leve reprimenda, mas demônio do orgulho e da infidelidade levantou-se de um salto em seu coração, e recordou-lhe que qualquer parcialidade para com a seita odiada seria um sinal de fraqueza, uma perda de popularidade, e uma falta de lealdade aos deuses. Ademais, a hesitação trairia o falso zelo de seu coração hipócrita, então, sentando-se no trono, pronunciou a sentença contra o bispo de Antioquia:
— Ordenamos que Inácio, que afirma carregar consigo o Jesus crucificado, seja levado em cadeias à grande cidade de Roma, e cm meio aos jogos do anfiteatro, como um prazeroso espetáculo ao povo romano, seja dado em alimento ás bestas feras.
Quando Inácio ouviu sua sentença, caiu de joelhos, e erguendo os braços ao céu, bradou num êxtase de alegria: - Oh. Senhor, agradeço-te haver-me honrado com o mais precioso sinal da tua caridade, e permitido que eu seja acorrentado por teu amor, como foi o apóstolo Paulo.
Ele permaneceu na mesma posição, os braços levantados, os olhos fixos no céu; parecia haver tido um vislumbre daquela inefável alegria que tão ardentemente desejava, c que logo desfrutaria. Foi arrancado de seu devaneio pelas garras de um soldado que agarrou-lhe a frágil mão, e a prendeu numa algema de criminoso. Seu crime foi "carregar dentro de si Jesus crucificado". Ele não ofereceu resistência; cheio de alegria, e orando por seu pobre rebanho, foi com os guardas para uma das celas da prisão pública, onde aguardaria a partida para Roma.
Uma multidão agrupara-se no pátio do palácio do governo, onde residia o imperador. Quando viram o venerável bispo algemado e condenado à morte, um murmúrio de compaixão rompeu de cada lábio; havia muita gente com lágrimas nos olhos, e no peito, um soluço reprimido. Eram cristãos assistindo o seu amado bispo e pai ser arrastado para uma morte ignominiosa.
João Crisóstomo reflete com muita eloqüência e piedade sobre a razão de Inácio haver sido levado a Roma. Os mártires eram geralmente mandados do tribunal para o cadafalso, e freqüentemente tornavam-se vítimas da ira impotente dos tiranos, e eram torturados e postos à morte na própria corte de justiça. Trajano, porém, não era homem de disposição brutal, e teria suspendido a perseguição contra os cristãos, não fosse o temor da indignação popular. Quando ordenou que o velho bispo fosse levado a Roma. e exposto às feras perante dezenas de milhares de espectadores, foi para que o Império inteiro pudesse louvar-lhe o zelo a serviço dos deuses, e o povo fosse dissuadido de abraçar o cristianismo ao testemunhar a terrível sorte de seus líderes. Entretanto, a divina Providencia, que pode tirar o bem das más ações humanas, destinou essa jornada à edificação da Igreja e à salvação de inúmeras almas. A constância, a piedade, e a eloqüência do mártir em seu caminho para a morte espalharam amplamente a sublime verdade da lei divina; ele despejou de seu coração o fogo do amor que queimava dentro de si. Por onde ele passava, os cristãos eram animados a um novo fervor, e muitos infiéis reconheceram no respeitável prelado um reflexo da divindade do evangelho que ele pregava; abjurando os falsos deuses do paganis­mo, tornaram-se filhos de Deus.
Durante sua viagem a Roma, a sua felicidade e a sua paz de espírito foram além de qualquer descrição. A cada dia crescia o seu desejo pelo martírio. Ele foi levado de Antioquia a Selêucia, e lá embarcou para Esmirna. Aportaram seguramente após longa e penosa viagem marítima, e Inácio imediatamente empenhou-se para ter um encontro com o bispo Policarpo, seu condiscípulo de João. Pelo esforço dos cristãos que o acompanharam, e que provavelmen­te subornaram os guardas, foi-lhe dado este privilégio, e ele passou alguns dias com Policarpo.Os estudiosos da história eclesiástica acharão, talvez, à primeira vista, alguma dificuldade em trazer para a mesma página os notáveis nomes de João, Inácio e Policarpo. João foi o discípulo amado, que reclinou-se no peito do Senhor; Inácio foi martirizado no ano 107; e quanto a Policarpo, supõe-se que sofreu o martírio no final de 167. Inácio exerceu o bispado antes que Policarpo houvesse nascido; contudo, ambos foram discípulos de João. Estes fatos são facilmente conciliados: João viveu até a idade de 101 anos. Ele consagrou Policarpo ao bispado de Esmirna por volta do ano 90 de Nosso Senhor, antes de ter as misteriosas visões do Apocalipse, na ilha de Patmos. Viveu alguns anos na Mia Menor, e deve ter estado freqüentemente na cidade de Antioquia, quando Inácio era o seu bispo. Além disso, no primeiro século, aqueles que podiam consultar os apóstolos por cartas, ou entrevista, sobre as dúvidas que surgiam acerca dos discípulos ou dos ensinamentos da Igreja, eram chamados discípulos desses apóstolos. Assim sendo, Inácio e Policarpo foram condiscípulos de João.
Da residência de Policarpo, Inácio escreveu algumas cartas maravilhosas e sublimes, solicitando aos cristãos de diferentes igrejas, especialmente de Roma, que não lhe impedisse o martírio. Não que os cristãos fossem acostumados a resgatar seus mártires das mãos dos tiranos por meio da força física, mas Inácio bem sabia que eles possuíam armas mais poderosas que aquelas ostentadas pelos exércitos nas batalhas; era a invisível, irresistível, e poderosa arma da oração. Por ela, a ira dos tiranos era desviada, e a morte, frustrada. E Inácio suplicou-lhes, com todo o fervor de seu coração, que o deixassem receber sua coroa, e partir agora, em sua idade avançada, de uma enfadonha vida de inquéritos judiciais para a bem-aventurança inefável do reino celestial. Os cristãos consentiram, e o mártir ganhou sua coroa.
"Obtive do Deus Todo-poderoso", escreveu ele em sua carta aos romanos, "o que há longo tempo venho desejando: ir ver-vos, a vós, verdadeiros servos de Deus; e mais que isto, espero alcançar sua misericórdia. Vou a vós algemado pelo amor de Jesus Cristo, e algemado, espero chegar logo à vossa cidade para receber vosso abraço e despedidas para o fim. As coisas começaram de modo auspicioso, e eu oro sinceramente para que o Senhor remova todo impedimento ou atraso para o glorioso fim que Ele parece me haver destinado. Mas, oh! Um medo terrível arrefece-me a esperança, e vós, meus irmãos, sois a causa deste temor. Temo que a vossa caridade se interponha entre mim e a minha coroa. Se vós desejásseis impedir-me de receber a coroa do martírio, ser-vos-ia fácil fazê-lo. Mas que tristeza e dor seria para mim essa bondade que me privaria da oportunidade de sacrificar a minha vida - oportunidade que talvez eu nunca mais tivesse. Permitindo que eu me vá sossegadamente ao meu fim, vós me ajudais naquilo que me é mais caro. Se, todavia, em vossa caridade mal orientada, quisésseis salvar-me, estaríeis-vos pondo como os mais cruéis inimigos no próprio portal do céu, e arremessando-me de volta ao profundo e tempestuoso mar da vida, para ser novamente atirado de um lado para outro em seus vagalhões de aflição.
Se me amais com verdadeira caridade, permitir-me-eis subir ao altar do sacrifício, e vós mesmos reunir-vos-eis à minha volta, entoando hinos de agradecimento ao Pai e a Jesus Cristo, por Ele haver trazido, do leste para o oeste, de Esmirna a Roma, o bispo de Antioquia, para fazê-lo confessor de seu grande nome, e sua vítima e seu holocausto. Oh! Que feliz e abençoada a nossa sina, morrer para este mundo, e viver eternamente em Deus!"
Noutro trecho de sua carta, ele usa estas sublimes e tocantes palavras: "Deixai-mc ser o alimento das feras; deixai-me ir, desse modo, a possessão de Deus. Sou o trigo de Jesus Cristo; portanto devo ser quebrado e moído pelos dentes dos animais selvagens, para que me torne seu pão imaculado e puro. Mago aqueles animais que logo serão meu honrado sepulcro. Eu desejo e peço a Deus que eles não deixem nada de mim sobre a terra, para que quando o meu espírito voar ao descanso eterno, o meu corpo não seja uma inconveniência a ninguém. Então serei um verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo não puder ver mais nada de mim. Oh! Oro a Deus para que assim seja; que eu possa ser consumido pelas bestas, e ser a vítima do seu amor. É para solicitar o vosso auxílio que vos escrevo; não vos envio mandamentos e preceitos, como Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos; eu. um criminoso miserável. Eles eram livres; eu, um escravo sem valor. Mas se eu sofrer o martírio, serei livre. Agora que estou em cadeias por Jesus Cristo, reconheço a futilidade das coisas mundanas, e aprendi a desprezá-las. Na viagem que fiz desde a Síria, por terra e por mar, de noite e de dia, lutei e ainda luto com dez leopardos ferozes, que me pressionam de todos os lados; são os dez soldados que me mantêm algemado, e são meus guardas, que se tornam ainda piores e mais cruéis, de acordo com os benefícios que recebem. No entanto, estas coisas são para mim lições do mais sublime caráter; contudo, ainda não sou perfeito". Veja Acta Sincera. Ruinart, vol. I, etc.)
Embora as cartas de Inácio despertem os mais profundos sentimentos de devoção em nossa alma, trazem-nos aos olhos lágrimas de compaixão. Não resta dúvida de que ele sofreu muito em sua longa e tediosa jornada a Roma. Essa viagem deve ter levado mais de seis meses; a sua carta de Esmirna data de 24 de agosto, e ele só foi martirizado em 20 de dezembro. Havendo chegado à Grécia, cruzaram por terra a Macedônia, e navegaram novamente de Epidamo à Itália. Cruzaram o mar Adriático, e foram rodeando o litoral sul da Itália, para a costa oeste. Passando a cidade de Pozzuoli, Inácio ansiou desembarcar lá, a fim de ir à Roma pela mesma estrada que Paulo percorrera muitos anos antes. Mas levantou-se um vento favorável, e toda a viagem foi feita pelo porto de Ostia. "Por um dia e uma noite", relatam os cristãos que acompanharam Inácio e escreveram os Atos de seu martírio, "tivemos este vento favorável. Para nós, decerto, era ele uma fonte de grande tristeza, porque nos obrigava a mais depressa separar-nos da companhia desse homem santo; para ele, no entanto, era motivo de grande alegria e felicidade, porque o aproximava cada vez mais de seu fim almejado".
Chegaram à Ostia pouco antes do término dos jogos anuais das atendas de janeiro. Estes jogos eram chamados sigillaria, e eram os mais populares e concorridos. Os soldados, desejando chegar a Roma antes de seu término, apressaram-se de Ostia, sem demora. Muitos dos cristãos ouviram da chegada de Inácio, e foram encontrá-lo num lugar próximo de onde agora se vê a imponente igreja de São Paulo. Ele foi saudado com uma mistura de alegria e tristeza; alguns estavam maravilhados de ver o venerável pastor, e receber a sua última bênção; outros choravam cm voz alta a tristeza de saber que aquele grande homem ser-lhes-ia tirado por uma morte ignominiosa. Ele os consolava com a alegria de seu próprio coração, e tornava a implorar-lhes que não lhe evitassem o sacrifício com suas orações. Chegando junto aos portões, caíram todos de joelhos e receberam a sua última bênção solene.
Era a manhã do dia 20 de dezembro, de 107 d.C. O sol já se erguera no céu, e despejava seu esplendor dourado sobre a cidade. Os soldados e o velho bispo algemado adentraram aquele portão, através do qual rolara a corrente do triunfo, e passaram muitos cativos do leste, para serem massacrados no Capitólio, como o clímax glorioso do bárbaro triunfo.
Inácio desejara, desde a infância, ver a grande metrópole do Império, e agora, ela se abria diante dele cm brilhante esplendor. Era uma floresta de templos, túmulos e mansões, de um branco nevado que parecia imperecível. Seus olhos, porém, estavam embaçados de lágrimas: seu coração, moído de tristeza pela medonha escuridão que pairava sobre a cidade poderosa. O esplendor e a magnificência de seus monumentos de mármore e ouro mais se assemelha­vam à decoração de uma tumba colossal. Com os braços cruzados sobre o peito, ele orou para que o sol da justiça eternal um dia raiasse sobre a cidade ignorante; que o sangue de tantos mártires derramado em seu solo contribuísse para que na vida de outros santos se apresentas­sem os frutos daquele sangue mais precioso vertido no Calvário.
Enquanto Inácio absorvia-se na oração, uma breve curva na estrada trouxe-os para dentro da visão do poderoso Coliseu, do deslumbrante vestígio do palácio dourado de Nero, que coroava o Palatino, e. à distância, dos templos imponentes do Capitólio. Ao mesmo tempo, ouviram o troar de alguns milhares de vozes, misturadas aos rugidos dos leões e das outras feras. Um gladiador havia tombado no anfiteatro, e o populacho brutal ovacionava o golpe fatal que o derrubara; os animais alarmavam-se no calabouço, e a terra parecia tremer ao som do medonho coro de homens e bestas. Alguns minutos, e Inácio chegou junto aos muros maciços do Coliseu. Mas adiantemo-nos a ele, e tomemos assento numa das bancadas, para testemu­nhar a horrenda cena que se seguirá.
Um simples olhar à volta do anfiteatro, e seriam necessários alguns volumes para descre­ver tudo o que vemos. Imensidão e arte, beleza e conforto, envolto com os raios de luz que trazem as primeiras impressões - a mistura heterogênea de milhares de pessoas que ocupam cada assento disponível, o multicolorido suavizado pelo toldo púrpura, enriquecido pelas brilhantes armaduras dos soldados, e tudo o que o ouro e a prata podem oferecer para deslumbramento dos olhos. O trono do imperador, numa plataforma elevada, com o palio carmesim, é de notável suntuosidade. Ele não está presente; encontra-se no acampamento. Mas o seu lugar está ocupado pelo prefeito da cidade, um coitado imprestável, cujo deus é a vontade do seu senhor, Próximo a ele estão os organizadores dos jogos, os irmãos Arvals, e as virgens vestais; no primeiro círculo de bancadas, sentam-se todos os ricos e grandes da cidade; a ordem acima deles acha-se vestida de belos mantos brancos - são os cavaleiros. E então vem a imensa plataforma, ou galeria do povo, onde se acham bancadas de madeira para as mulheres, obrigadas, por lei. a estarem separadas, e modestamente à distância das cenas de nudez e crueldade, que se passam na arena. Entre o povo. estão os enviados de todos os territórios sob a águia romana, e em todas as variedades de cores e costumes. Vê-se a raça robusta do norte gelado, de alvas feições e cabeleira castanha, lado a lado com o árabe trigueiro c o etíope de cabelo encaracolado; vêem-se os habitantes das profundezas do Egito, que bebem água das cataratas do Nilo, ao lado dos sarmácias, que mitigam a sede com o sangue de seus cavalos.

"Quae tam seposita est, quae gens tam barbara, caesar, ex qua spectator non sit in urbe tua!"
Marcial.
A confusão das vozes era como o murmúrio do mar vigoroso. Parecia que a soberania do povo, banida do Fórum, buscara refúgio no anfiteatro, e vindicava com gritos ensurdecedores a sua liberdade de insultar e abusar. Em vão imaginamo-nos como pessoas do passado, para pintar as cenas do Coliseu nos dias de sua glória! Nada possuímos no âmbito de nossa experiência para comparar aos seus 100.000 espectadores tripudiando sobre imagens de assassinato e sangue.
Percorrera a multidão o rumor de que um dos líderes dos cristãos havia sido trazido da Síria, e condenado, por ordens do imperador, a ser exposto às feras. Um frenesi selvagem vai passando de banco para banco; o anfiteatro inteiro levanta-se e solta o grito coletivo, pedindo que os cristãos sejam lançados aos leões. Os mais fortes aplausos de nossos maiores teatros são apenas brisa, se comparados aos brados da raiva diabólica com que os romanos pediam o extermínio dos seguidores do galileu crucificado. Como o estrondo de uma avalanche alpina ecoando através dos montes, a vibração das vozes humanas percorre os palácios e os monu­mentos de mármore da cidade que, pelos desígnios da Providência, tornou-se um dos centros do cristianismo antigo.
Repentinamente, a calma reina sobre as massas vivas; todos os olhos fixados no portai» este. Os soldados conduzem à arena um homem idoso e fraco, Os cachos prateados de seu cabelo foram branqueados pela neve de mais de cem invernos; seu passo é firme; seu aspecto, mimado: nunca uma vítima mais venerável foi conduzida através daquelas areias manchadas de sangue. Ele é levado aos pés da plataforma imperial; o prefeito, tendo ouvido de sua longa viagem desde o leste, e tocado por sua idade e aparência respeitável, pareceu experimentar um sentimento de piedade, e dirigiu-se-lhe nestas palavras: "Admiro-me de que ainda estejas vivo, após toda a fome e o sofrimento que já suportaste; agora, consente ao menos em oferecer sacrifício aos deuses, para que sejas livre da horrível morte que te ameaça, e salva-nos do pesar de ter de condenar-te".
Inácio, empertigando-se com majestade, e lançando ao representante do imperador um olhar de desdém, declarou:
— Com tuas palavras brandas, desejas enganar-me e destruir-me. Sabe tu que esta vida mortal não tem atração para mim; desejo ir a Jesus, que é o pão da imortalidade e a bebida da vida eterna. Vivi inteiramente para Jesus, e a minha alma anela por Ele. Desprezo todos os teus tormentos, c lanço aos teus pés a tua liberdade oferecida.
O prefeito, enraivecido com a linguagem ousada do bispo, proferiu num tom arrogante: — Já que este velho é tão orgulhoso e desdenhoso, deixai-o ser amarrado, e soltai dois leões para devorá-lo.
Inácio sorriu com alegria. Com um ato de ações de graças no coração, e uma súplica muda por forças, dirigiu-se à assembléia nestes termos: — Romanos que testemunhais a minha morte não penseis que sou condenado por algum crime ou má ação. E-me permitido que eu vá a Deus, o que anelo com insaciável desejo; sou trigo de Deus, e devo ser moído pelos dentes das feras, a fim de tornar-me para Ele um pão branco e puro.1
Caiu, então, de joelhos, cruzou os braços sobre o peito, e com os olhos erguidos ao céu, esperou calma e resignadamente pelo momento que deveria libertá-lo dos problemas desta vida, e lançar-lhe a alma em seu vôo para a eternidade. Mais um momento, e os pequenos portões das passagens subterrâneas se abrem, e dois leões saltam para a arena.
Um silêncio palpável reina no anfiteatro. As feras avançam... Basta. Deixemos que a imagina­ção complete os detalhes angustiantes. 0 mártir foi-se ao encontro de sua coroa. Podemos apenas transcrever as breves e tocantes palavras de seus Atos-. "Sua oração foi ouvida: os leões nada deixaram, a não ser os ossos mais sólidos de seu corpo".
A noite arrastou-se sobre a cidade. O Coliseu está silencioso como uma tumba. À frouxa luz do luar. três homens caminham rápida c silenciosamente à sombra das arcadas. Peno do centro da arena, num dos lados da arquibancada do imperador, eles abaixam-se e desdobram um pano, onde recolhem alguns ossos e uma porção de areia empapada de sangue. São os cristãos Carus, Philom, e Agathopus, que acompanharam Inácio desde a Antioquia.
Próximo ao Coliseu, há uma casa freqüentada pelos cristãos. É a casa de Clemente, membro da família de Flávio, e discípulo de Pedro. Para esta casa os três amigos levam os restos mortais do querido pastor, e prestam-lhe as homenagens fúnebres.
Embora Inácio seja o primeiro a ser mencionado por sofrer no Coliseu, temos muitas razões para acreditar que houve muitos mais antes dele, e depois também, expostos às bestas feras no mesmo lugar, e de quem nenhum registro chegou até nós. Quando Inácio morreu, o Coliseu já tinha vinte e sete anos de uso. Nesse tempo a perseguição aos cristãos assolava com fúria ora maior, ora menor, e temos relatos de cristãos sendo lançados às feras noutros anfiteatros do Império. Lemos a respeito de Tecla, exposta, a mando de Nero, no anfiteatro de Licaònia. Supõe-se que ela tenha sido a primeira mulher martirizada. Atílio Glabrione. que era cônsul sob Domiciano (93 d.C), teve de lutar com um leão no anfiteatro p Albano. 0 servo de Deus bravamente matou o leão, mas foi depois martirizado pelo tirano, em Roma.
Conquanto seja pequena a lista autenticada desses que sofreram no Coliseu de Roma. temos várias razões para presumir que milhares foram enviados ao céu, sem que tenhamos pies qualquer registro. O último e terrível dia, que desvelará ao homem o passado e o futuro, encontrará entre o inigualável coro dos mártires uma multidão de almas triunfantes, que lutaram na arena do Coliseu, e cujos nomes não fomos capazes de honrar.

sexta-feira, maio 29, 2009

HASÎDÎM - OS "ESPIRITUAIS" - P'RÎSAYYÂ - "OS SEPARADOS"

Quem, então, eram os fariseus? Eles são mencionados, primeira vez, com esse nome, em meados do segundo século a.C. Em sua narrativa do governo de Jônatas (160-143 a.C.), irmão e sucessor de Judas Macabeu, Josefo diz que nessa época havia três escolas de pensamento entre os judeus: os fariseus, os saduceus e os essênios, dos quais estes últimos eram adeptos rígidos da predestinação, e os saduceus insistiam que todas as coisas aconteciam de acordo com o livre arbítrio de cada um, enquanto os fariseus ocupavam uma posição intermediária que abria espaço para a predestinação divina e a escolha humana. Esse provavelmente não era o ponto mais importante em que os três grupos diferiam uns dos outros, mas Josefo gostava de falar dos paridos religiosos judaicos, como se fossem escolas de filosofia grega, e chamava a atenção para aqueles traços em que ele achava que os leitores gregos e romanos estariam interessados.Mais adiante ele diz que o sobrinho de Jônatas, João Hircano, que governou a Judéia por mais ou menos trinta anos (134-104 a.C.), no começo foi um discípulo dos fariseus, mas depois se ofendeu com a franqueza de um deles e rompeu com eles, passando a aliar-se com os rivais deles, os saduceus. A partir daí os fariseus formaram um tipo de partido de oposição por várias décadas, sofrendo dura repressão, especialmente às mãos de Alexandre Janeu (103-76 a.C.).
Mais adiante ele diz que o sobrinho de Jônatas, João Hircano, que governou a Judéia por mais ou menos trinta anos (134-104 a.C.), no começo foi um discípulo dos fariseus, mas depois se ofendeu com a franqueza de um deles e rompeu com eles, passando a aliar-se com os rivais deles, os saduceus. A partir daí os fariseus formaram um tipo de partido de oposição por várias décadas, sofrendo dura repressão, especialmente às mãos de Alexandre Janeu (103-76 a.C.).
Mais adiante ele diz que o sobrinho de Jônatas, João Hircano, que governou a Judéia por mais ou menos trinta anos (134-104 a.C.), no começo foi um discípulo dos fariseus, mas depois se ofendeu com a franqueza de um deles e rompeu com eles, passando a aliar-se com os rivais deles, os saduceus. A partir daí os fariseus formaram um tipo de partido de oposição por várias décadas, sofrendo dura repressão, especialmente às mãos de Alexandre Janeu (103-76 a.C.).
Josefo não delineia os antecedentes espirituais dos fariseus, mas é bem provável que eles surgiram entre as fileiras dos hasîdîm ou “espirituais”, que são chamados “asideus” no livro dos Macabeus (1 Macabeus 2.42; 7.14; e 2 Macabeus 14.6). A origem desses asideus provavelmente deve ser procurada entre o povo fiel a Deus na Judéia que, algumas décadas após o retorno do exílio, agruparam-se com o propósito de se encorajar mutuamente, no estudo e na prática da lei sagrada, em meio ao que eles entendiam como declínio moral e religioso. No livro de Malaquias somos informados de que “os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temiam ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve” (Ml 3.16-17). E estes cujos nomes foram registrados no livro como memorial não apenas seriam poupados naquele dia vindouro, mas também seriam os executores da sua sentença contra os ímpios: “Para vós outros que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas [...]. Pisareis os perversos, porque se farão cinzas debaixo das plantas dos vossos pés, naquele dia prepararei, diz o Senhor dos Exércitos". (Ml 4.2-3).
A devoção apaixonada desse povo à lei do seu Deus é ilustrada muito bem no Salmo 119, composição de alguém que suportou dificuldades e perseguições, por causa da sua lealdade aos “testemunhos” divinos, porém continua a considerá-los uma luz para o seu caminho e mais doces do que mel ao paladar. Eles deploravam a intromissão de costumes helenistas na vida judaica, sob os ptolomeus e selêucidas, e eram desprezados como estraga-prazeres antiquados pela geração mais jovem, mesmo nas famílias sacerdotais, que abraçou com fervor a nova moda. Quando, porém, o helenismo mostrou sua face inaceitável, na ação de Antíoco Epifânio que prometia extinguir a identidade religiosa e nacional dos judeus, foram os asideus que demonstraram ser os patriotas mais autênticos. Alguns deles opuseram resistência ferrenha às forças selêucidas, e conquistaram a coroa do martírio. Outros, talvez a maioria, uniram-se à família dos asmoneusJudas Macabeu e seus irmãos – e a seus seguidores, quando elevaram o padrão da revolta e iniciaram a guerra de guerrilhas contra os selêucidas.
A guerra de guerrilhas foi mais bem sucedida do que era esperado. O rei e seus conselheiros perceberam que sua política para a Judéia fora equivocada, e perto do fim de 164 a.C. a reverteram, permitindo que os judeus novamente praticassem sua religião ancestral e restaurassem o templo em Jerusalém, para o culto ao Deus de Israel. Muitos asideus estavam dispostos a contentar-se com isso, uma vez que a prática livre da sua religião era o objetivo da sua resistência. Eles não romperam imediatamente sua aliança com os asmoneus, mas não colaboraram mais com tanto entusiasmo na luta pela independência, especialmente depois de ver que essa luta implicaria o crescimento do poder asmoneu. Quando Jônatas aceitou o sumo sacerdócio em 152 a.C. das mãos de um pretendente ao trono selêucida, um grupo de asideus – que acabou formando a comunidade de Qumran – ficou tão furioso com essa usurpação da dignidade ancestral da casa de Zadoque que se recusou a reconhecê-lo como tal e até a adorar no templo, que fora profanado pela ação ilegítima do próprio Jônatas e dos seus herdeiros e sucessores.
Quando a independência política foi afinal obtida, o sumo sacerdócio foi confirmado para a família dos asmoneus, pelo decreto de uma assembléia popular. Muitos asideus, porém, não estavam contentes com isso, apesar de não poderem ir tão longe como a minoria intransigente que optou sair da vida pública, por causa da sua objeção à posse do ofício sagrado pelos asmoneus. Josefo, ao falar do rompimento entre os fariseus e João Hircano, diz que o que ofendeu João mortalmente foi a proposta de que deveria contentar-se com a liderança política e militar e desistir do sumo sacerdócio.
Será que os fariseus, então, eram asideus? Parece que sim, ou, pelo menos, que surgiram dentro da comunidade dos asideus e devem ser mesmo considerados o principal sucessor dela. A designação “fariseus” deriva da raiz hebraica e aramaica que significa “separados”. A palavra grega pharisaioi evidentemente é uma transliteração do aramaico p’rîsayyâ, “os separados”. Muitos entendem que eles receberam esse nome, por terem se afastado da aliança com os asmoneus, mas talvez o sentido seja mais geral, indicando sua política de separação total de tudo o que poderia trazer impureza moral ou cerimonial. Essa separação era o outro lado da santidade a que eles se sentiam especialmente chamados. Isso é expresso em um comentário rabínico posterior sobre Levítico, que amplia a instrução: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2): “Assim como eu sou santo, vocês também precisam ser santos; como eu estou separado (heb. parûs), vocês também precisam ser separados (heb. p’rûsîm)".
Os fariseus tomavam muito cuidado para guardar a lei do sábado e as restrições de alimentos, perpetuando assim os princípios dos judeus que foram martirizados por Antíoco IV, e sofreram torturas e morte para não apostatar nessas coisas. Davam escrupulosamente o dízimo do produto da terra – não apenas cereais, vinho e azeite, mas até as ervas da horta – e se recusavam a comer alimentos sujeitos ao dízimo, enquanto este não estivesse pago.
Em seu estudo da lei, eles elaboraram um conjunto de interpretações e aplicações que, com o tempo, adquiriu uma validade igual à da lei escrita, e sua origem, numa ficção jurídica, era atribuída a Moisés no monte Sinai, junto com a lei escrita. O propósito dessa lei oral – a “tradição dos anciãos”, como é chamada nos evangelhos (Mc 7.5) – era adaptar as prescrições antigas às situações diferentes, depois de tanto tempo, e impedir que fossem descartadas como obsoletas e impraticáveis. Havia diferentes escolas de interpretação entre os fariseus, mas todos concordavam com a necessidade aplicar a lei escrita nos termos da lei oral. Isso os distinguia dos seus principais opositores teológicos, os saduceus, que acreditavam (pelo menos em teoria) que a lei escrita deveria ser preservada e aplicada sem modificações, não importa o peso que sua imposição literal colocaria sobre as pessoas.
Não temos informações suficientes sobre a teologia dos saduceus, porque nenhum relato de primeira mão chegou até nós. O que sabemos apenas tem relação com os pontos em que diferiam dos fariseus. Sabemos, por exemplo, que, diferente dos fariseus, eles diziam que “não havia ressurreição, nem anjo, nem espíritos” (At 23.8). A fé na ressurreição, mantida pelos fariseus, é atestada ente os martirizados por Antíoco; ela deve ser distinguida da idéia (expressa, por exemplo, por Bem Siraque) de que o tipo mais desejável de imortalidade era a lembrança pela posteridade das virtudes de um homem bom, especialmente quando eram reproduzidas nos seus descendentes. Os saduceus podem muito bem ter considerado essa idéia mais coerente com os primeiros textos – apesar de alguns deles ficaram surpresos, certo dia, em Jerusalém, por volta do ano 30 d.C., ao ouvir um visitante da Galiléia deduzir a esperança da ressurreição da declaração divina feita a Moisés da sarça ardente. Quanto à descrença dos saduceus em anjos e demônios, o que eles rejeitavam, foi provavelmente o conceito de hierarquias opostas de espíritos bons e maus, cada uma encabeçada por sete arcanjos e arquidemônios conhecidos pelo nome. Eles podem ter reconhecido uma afinidade entre essas crenças dos fariseus e as da religião de Zoroastro; realmente, um estudioso chegou a sugerir que “fariseu” significava originalmente “persa” e que era uma designação pejorativa, inventada pelos saduceus, para seus opositores. Isso é improvável, mas pode-se imaginar que os saduceus, à guisa de sátira, reinterpretaram “fariseus” como “persas”. Os saduceus certamente pensavam que eles é que preservavam a religião dos antigos, e viam os fariseus como inovadores perigosos – modernistas, para ser claro.
Os fariseus ascenderam a uma posição de influência, quando Alexandre Janeu foi sucedido por sua viúva Salomé Alexandra; seu reinado de nove anos (76-67 a.C.) foi lembrado na tradição rabínica como uma pequena idade de ouro. Herodes lhes deu uma atenção respeitosa na primeira parte do seu reinado; ainda no ano 17 a.C., ele os liberou de um juramento de lealdade que exigia dos seus demais súditos. Pouco depois disso, porém, ele começou a se ressentir da teimosia deles, e, ao impor um novo juramento de lealdade em 7 a.C., a si mesmo e a Augusto, multou os fariseus - a grande maioria – que se recusaram a jurar. Quando, perto do fim da sua vida, alguns discípulos de fariseus, instigados por seus professores, derrubaram a grande águia dourada que ele colocara sobre a entrada do templo, ele se vingou de modo atroz.
Sob a administração romana, os fariseus estavam representados no Sinédrio. Apesar de eles serem minoria, segundo Josefo, sua influência sobre o povo era tal que a maioria dos saduceus e sumo sacerdote era obrigada a respeitar as opiniões deles. Muitos escribas, talvez a maioria – os expositores profissionais da lei e dos profetas – eram discípulos dos fariseus e difundiam as interpretações deles.Os fariseus se organizavam em grupos locais. Esses grupos eram chamados de habûrah; cada membro de um habûrah era um haber dos outros membros. Josefo, que nos diz que desde os seus dezenove anos de idade ele organizou sua vida segundo as regras dos fariseus, estima seu número em mais ou menos 6.000.
Por causa da preocupação meticulosa deles com as leis de pureza e o dízimo, eles não conseguiam conviver facilmente com aqueles, mesmo entre os judeus que não insistiam tanto nesses particulares como eles. Isso dizia respeito à grande maioria da população judaica da Palestina, camponeses e artesãos, que não podiam dedicar tanto tempo ou interesse ao estudo dessas leis como os fariseus. Estes, por isso, costumavam falar com desprezo do “povo da terra”, como os chamavam, porque essas pessoas, na opinião deles, eram incapazes da verdadeira religiosidade. Por outro lado, os fariseus eram criticados, por serem muito frouxos em sua busca da santidade pelos sectários de Qumran que promoveram sua própria “separação”, a ponto de se isolar (para não dizer enclausurar) e, com Isaías 30.10 na cabeça, diziam que os fariseus “procuravam coisas aprazíveis” ou (como a frase também pode ser traduzida) “davam interpretações aprazíveis”.
Um a certa idéia de família caracterizava certamente o movimento dos fariseus, mas havia uma ampla variedade dentro dele – em parte conseqüência das diversas escolas de interpretação, e em parte de diferentes temperamentos e motivações. Uma passagem do Talmud, citada com freqüência, se bem que bastante posterior, faz distinção entre sete tipos de fariseus, dos quais apenas um, o fariseu que é fariseu por amor a Deus, recebe elogios sem restrições.
Frederick Fyvie
O

quinta-feira, maio 28, 2009

COMO ESTA HISTÓRIA SE ENCAIXARIA NA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE?

O Primeiro Mártir do Coliseu

As ruínas da cidade incendiada ainda fumegavam nos montes Palatino e Esquilino, quando Nero oncebeu a idéia de satisfazer a raiva do povo com o sangue dos cristãos. Esse monstro, cujo nome é associado a tudo o que é cruel e impiedoso, foi o primeiro imperador romano a decretar a perseguição aos inofensivos servos de Deus. O édito foi emitido; o clamor, em toda parte, era o extermínio do cristianismo. Todo o mundo pagão armou-se contra ele. Mal fora promulgado o terrível decreto, e as pessoas, como que possuídas por demônios, lançaram-se em fúria desu­mana contra os inocentes e indefesos seguidores do Crucificado. A frené­tica resolução de desarraigar o cristianismo começou em Roma e difun­diu-se através de cada província e cidade do Império. Membros da mes­ma comunidade, e até da mesma família, converterem-se em delatores e executores uns dos outros. Nestas páginas acham-se registradas duas ou três ocasiões em que pais tentaram em vão, com todo tipo de tortura e castigo, abalar a lealdade de seus tenros e inocentes filhos. Em cada cidade e aldeia, foi concedida licença irrestrita aos magistrados para pilhar, aprisionar, torturar e destruir os cristãos; e esses oficiais subordi­nados, por sua vez, delegavam poder aos lacaios mais cruéis a seu serviço. O mesmo aconteceu, em época recente, na China e no Japão.
"Foi proclamado, além disso", afirma um mártir citado por Eusébio, "que ninguém deve experimentar qualquer cuidado ou pena por nós, mas que todos devem pensar e comportar-se em relação a nós como se não mais fôssemos gente".
Esses horrores não cessaram com os tiranos que lhes deram início. Por trezentos anos, os poderes do Inferno continuaram a sua guerra contra a Igreja, com maior ou menor fúria levantando e caindo, como as ondas do oceano; num momento, desabando com o estrondo e a espuma dos vagalhões na tempestade, e no outro, calmo e tranqüilo como um lago.
Os escritos de Basílio sobre a perseguição de Deoclécio dão uma idéia geral do que foram as crueldades e os horrores daqueles dias.
"As casas dos cristãos eram deixadas em ruínas; seus bens, pilhados. Seus corpos caiam nas mãos dos ferozes lictores, que os dilaceravam como bestas selvagens, e arrastavam as matronas pelos cabelos através das ruas, insensíveis às súplicas por clemência, viessem elas dos idosos ou daqueles em tenra idade. Os inocentes eram submetidos a tormentos reserva­dos apenas aos mais vis criminosos; os calabouços eram lotados com os habitantes dos lares cristãos, que agora jaziam desolados; os desertos sem caminhos e as cavernas das florestas enchiam-se de fugitivos, cujo único crime fora a adoração a Jesus Cristo. Nesses dias trevosos, filhos traíam os pais, e pais acusavam a própria prole; os servos obtinham a propriedade de seus senhores por denunciá-los, e um irmão buscava o sangue do outro. Nenhuma reivindica­ção ou vínculo de humanidade parecia ser reconhecido, tão completa era a cegueira que a todos acometera, como se fora uma possessão demoníaca. Além disso, as casas de oração eram profanadas por mãos ímpias; os altares mais sagrados, derrubados. Nenhuma oblação a Deus era feita; nenhum lugar foi deixado para os mistérios divinos; era só tribulação, uma escuridão lutuosa calava todo consolo; o colégio sacerdotal foi disperso; nenhum sínodo ou concilio pôde reunir-se, por medo da matança que assolava em toda parte; mas os demônios celebravam suas orgias e poluíam tudo com a fumaça e o sangue de suas vítimas".
As catacumbas são o último memorial dessa época terrível; aquelas cavernas lúgubres e as escuras passagens nas entranhas da terra são o mais precioso registro da Igreja; suas
lajes toscas, com a palma e a coroa, falam de aproximadamente um milhão de mártires.
O Coliseu é outro testemunho dos triunfes do passado. Ele surgiu em meio aos horrores da perseguição, e tornou-se o campo de batalha onde a inocência e a fragilidade lutavam com a tirania e a criminalidade. O sangue, os milagres, e as vitórias da Igreja Primitiva lançaram uma reminiscência sagrada à volta dessas veneráveis ruínas, que nos faz aproximar com uma espécie de temor religioso. Supõe-se que milhares de mártires verteram seu sangue em suas arenas, embora os registros exatos não tenham chegado até nós. Dentre esses mártires, havia pessoas de ambos os sexos, e de diversas posições sociais: eram príncipes de sangue real, bispos, matronas de idade avançada, donzelas no rubor da juventude e da inocência, e crianças de tenra idade. A sua coragem e brandura, o seu triunfo sobre a dor e a morte, foram eloqüência que plantou aquela cruz, que agora projeta a sua sombra na desolada arena. Os atos dos heróis do Coliseu preenchem as páginas mais interessantes e maravilhosas da história da Igreja Primitiva. São belos, eloqüentes, tocantes, e estabelecem um notável contraste entre a força, a sublimidade e a magnificência do cristianismo, e a fraqueza, a vileza e a estupidez da infidelidade; são evidências incontestáveis da natureza divina da Igreja de Deus.
Mas quem foi o primeiro mártir do Coliseu? A resposta a esta indagação envolve a resposta de outra igualmente importante. Quem projetou e construiu essa estupenda obra-prima da arquitetura? Que grande mente concebeu esta estrutura gigantesca, dispôs as suas proporções tão primorosa ordem e simetria, edificou arco sobre arco e bancada sobre bancada, cortou lavrou uma montanha de calcário, na mais sublime obra da arte antiga? O que é dito do esplêndido anfiteatro não redunda em louvor de algum grande homem, cujo talento e habilidade superiores deram nascimento à construção? Quem é ele, para que lhe levantemos a efígie no altar dos gênios, e lhe ofereçamos o incenso da adulação e do elogio?
O arquiteto do Coliseu não carece do ouropel do louvor humano; contudo, deixe os amantes da arte sussurrar-lhe o nome com reverência, porque ele foi um cristão e um mártir. É um fato estranho que, por aproximadamente dezessete séculos, o arquiteto do Coliseu permanecesse desconhecido. Certamente uma construção de tamanha magnitude, contendo tantos detalhes e medidas, deve ter sido obra de uma mente superior. Todo edifício de renome reflete honras ao seu arquiteto; a fama dos grandes construtores do passado ainda brilha nas páginas da história, embora as estupendas obras de sua genialidade já hajam desaparecido.
Marangoni, um erudito historiador do século passado, escrevendo na Cidade Eterna, e à sombra do próprio Coliseu, fez esta bela observação: "É algo digno de reflexão que, não obstante a magnificência desta obra, tão excelente em sua arquitetura, tão admirável em sua construção, a até mesmo considerada por Marcial a mais maravilhosa de todas as maravilhas do mundo, nem ele, nem qualquer outro escritor das eras seguintes, tenham mencionado o seu grande arquiteto".
Marcial, como todos o sabem, foi um poeta romano que se distinguiu nos reinados de Vespasiano, Tito, e Domiciano. Ele exalta com pomposos elogios a memória de Rabírio, por sua habilidade em construir uni grande anexo ao palácio dos césares, durante o reinado de domiciano. Afirma em seus escritos que este arquiteto ergueu um palácio que alcançava o firmamento e refletia a glória das estrelas; que o seu gênio penetrara os céus distantes, e copiara das fortificações celestes a magnificência e a majestade de seu projeto. "Com muito mais razão", prossegue Marangoni, "não deveria ele imortalizar o nome e a memória do grande arquiteto do Coliseu - uma construção muito superior ao palácio da Palestina, e edificado por um homem tão celebrado quanto conhecido do próprio Marcial?"
Marcial não fez simplesmente uma alusão casual e passageira ao Coliseu; ele constituiu-se o seu panegirista. Os seus melhores poemas foram escritos sobre os horrores do anfiteatro; contudo, enquanto exalta com bombásticos louvores os méritos de um arquiteto inferior, por haver acrescentado uma nova ala à casa áurea, deixa passar em silêncio o nome que deveria ser escrito em letras de ouro em sua estrofe sobre o Coliseu. O silêncio de Marcial e dos escritores comtemporâneos não é um enigma da história?
Dezessete séculos se passaram sobre os muros imperecíveis deste estupendo monumento da antiguidade; turistas e estrangeiros afluíram de todos os pontos da bússola para fitar com admiração as ruínas, que imortalizaram em seus escombros um arquiteto desconhecido. Em vão, os amantes da grandeza passada leram histórias e registros antigos, à procura do nome deste homem. Debruçaram-se atentamente sobre as inscrições apagadas e as lajes de mármore rachadas, que ainda se agarram às velhas paredes, esperando achar ao menos um efêmero elogio ao construtor. Porém o esquecimento eterno ter-lhe-ia amortalhado o nome, não fosj uma descoberta acidental trazê-lo à luz.
Durante escavações feitas na catacumba de São Agnes, na estrada de Nomentan, uma rude tumba foi descoberta. Estava fechada por uma lápide de mármore ostentando a figura da palma e da coroa, e junto a ela, um frasco de sangue, o inconfundível testemunho do martírio. A tosca inscrição declarava: GAUDÊNCIO, o arquiteto do Coliseu.
Eis aqui a explicação para o estranho silêncio de Marcial e dos historiadores pagãos contemporâneos seus. Gaudêncio era um cristão e um mártir; pertencia a seita odiada e perseguida por todo o poder do Império. Provavelmente, foi uma das primeiras vítimas a ter o sangue derramado na areia do anfiteatro.
O imperador romano pensava não apenas aniquilar o cristianismo, mas obliterá-lo da memória humana. Nenhum ato público era permitido em favor dos cristãos; abrigá-los, elogiá-los, ou imaginar que fossem capazes de qualquer coisa grande e nobre, era traição. 0 poeta bajulador, que buscava somente os sorrisos de César, conhecia o tema que o agradaria; não arriscaria a vida expressando simpatia pelos perseguidos seguidores da cruz. Assim, Gaudêncio partiu sem um monumento. Os tímidos amigos deitaram os seus restos na tumba de um mártir, nas escuras criptas das catacumbas, e na débil esperança de que um dia a posteridade reconhecesse-lhe o gênio e o talento, rabiscaram rudemente, sobre a laje de mármore que o cobria, que ele fora o arquiteto do Coliseu.
Não surpreende que os restos mortais de Gaudêncio, bem como o de centenas de outros nobres mártires, fossem depositados silenciosamente, e aparentemente sem honras, nas me­lancólicas galerias das catacumbas. Numa época em que tudo era horror e confusão, quando os trêmulos sobreviventes mal podiam, em segredo e na escuridão da noite, reunir os restos de seus amigos martirizados, não havia oportunidade para registrar-lhes os triunfes e homena­gens em epitáfios estudados, ou monumentos imperecíveis.
Há milhares de santos brilhando no resplandecente grupo vestido de branco, e que "seguem o Cordeiro por onde quer que vá", desconhecidos da Igreja militante, a não ser pelo nome. Contudo, encontramos nos registros das catacumbas alguns versos curtos, porem tocantes, homenageando alguns mártires em particular; talvez a rude composição de algum amigo sobrevivente, lavrada na pedra dura por uma mão delicada, à baça luz de uma lâmpada a óleo. Tais eram os versos na tumba de Gaudêncio:

Sic premia servas Vespasiane Dire
Premiatvs es morte gaudenti letare
Civitas vbi glorie tve avtori

Promisit iste dat kristvs imnia tibi
Qui alivm paravit theatrv in celo

Eis aqui um panegírico em poucas palavras, porém simples e sublime. Ele declara que nossoherói foi vítima de grosseira ingratidão, e embora o seu gênio tenha contribuído para a glória da cidade, a sua recompensa foi a morte cruel. O cristão que entalhou este epitáfio parecia consolar-se com a glória e apreciação dada ao amigo no outro mundo. "César prometeu três grandes recompensas", parece dizer ele, "Mas o pagão foi falso e ingrato. Aquele, que é o grande Arquiteto do céu, e cujas promessas não falham, preparou para ti, em recompensa à tua virtude, um lugar no teatro eterno da cidade celestial".
À primeira vista, estes versos não parecem possuir toda a importância que lhes atribuí­mos mas um momento de reflexão provará que são um dos mais cândidos registros do passado. Não havia outro teatro construído no tempo de Vespasiano, a não ser o Coliseu; ele era a glória da cidade, e ainda o é em suas ruínas. Vespasiano não perseguiu os cristãos, mas houve mártires em seu reinado. As leis de Nero não tinham sido revogadas, e ainda eram executadas, com maior ou menor violência, em diferentes partes do Império. Lemos a respeito de Apolinário, bispo de Ravena, no martirológio romano de 23 de julho: "quisub Vespasiano Caesaregloriosum martyrium consummavif. Eusébio, em sua Histó­ria da Igreja (livro III, cap. 15), assim como Barônio (ano 74), asseveram que Vespasiano levantou uma terrível perseguição contra os judeus; mandou matar todos os que se diziam descendentes de Davi. Para os gentios daquele tempo, cristãos e judeus eram a mesma coisa. Dion Cássio afirma que Domiciano mandou matar aqueles "qui in mores Judeorum transierant" (livro -T). isto e, aqueles que se tornaram cristãos. Líderes superficiais são inclinados a duvidar da inferência deste epitáfio. Mil questões podem ser feitas, e muitas objeções levantadas, mas sem entrar num tedioso, e talvez desinteressante exame da questão, será suficiente declarar que é a opinião aceita de todos os antiquários modernos, que este epitafio só pode se referir ao arquiteto do Coliseu. Dentre os autores que defendem esta opinião, sem duvidar, estão Arringhi, Nibe, Rossi, Marangoni e Gerbet.
A laje que contém esta inscrição pode ser vista atualmente na igreja subterrânea de Santa Martina, no Fórum. Martina foi uma das virgens expostas às bestas selvagens do Coliseu. A capela subterrânea é uma jóia da arquitetura, e o último monumento da genialidade e da munifícência de Pietro da Cortona, que a projetou e construiu. É ricamente ornamentada, e possui muitas peças de belo e excelente mármore. Entre os ornamentos que lhe adornam as paredes não há um tão interessante quanto a rude lápide de Gaudêncio.
Nada se sabe de sua vida ou do modo como morreu; a sua história, o seu martírio, e o seu panegírico acham-se contidos neste breve e obscuro epitafio. A Igreja blasonou em seus registros, com letras brilhantes, os nomes desses heróis cujos talentos ou triunfos foram a glória daqueles tempos primitivos; dentre eles, pode-se reconhecer o arquiteto da maior obra da antiguidade, o cristão e mártir Gaudêncio.
O
A. O'Reilly

sexta-feira, agosto 18, 2006

História do Cristianismo - Capítulo 01

Introdução

A curiosidade pelo passado é uma das características do homem, desde pessoas como o antiquário Nabonido da Caldéia até os arqueólogos e historiadores de hoje. Os cristãos nutrem um interesse especial pela história, porque os fundamentos da sua fé estão firmados na história. Deus fez-se homem e viveu no tempo e no espaço na pessoa de Cristo. O Cristianismo tem sido a mais global e universal de todas as religiões que surgiram no passado no Oriente Próximo e no Oriente Médio. Além disso, tem sido cada vez mais influente na história da raça humana. A história da igreja é, pois, um assunto de enorme relevância para o cristão que deseja estar informado sobre sua herança espiritual, para imitar os bons exemplos do passado, e evitar os erros que a igreja freqüentemente tem cometido.


I – Que é História da Igreja?

O substantivo alemão geschichte, uma forma de verbo geschelen, que significa acontecer, refere-se à história mais como evento do que como processo ou produto. Assim, história pode ser definida, primeiramente, como um acontecimento, um evento real, ou seja, que acontece no tempo e espaço como resultado da ação humana. Tal acontecimento é absoluto e objetivo e só pode ser conhecido direta e plenamente por Deus. Tal história não pode se repetir exatamente mais tarde em outro lugar. Paralelos e padrões podem aparecer para ó historiador, porque pessoas podem se comportar semelhantemente em tempos e locais diferentes e porque elas são pessoas que podem ser afetadas pelo bem ou pelo mal.

Informação a respeito de um acontecimento é um segundo significado para a palavra história. Esta informação sobre o passado, usualmente indireta, pode estar em forma de documento ou objeto relacionados ao acontecimento. Diferente do cientista que pode estudar seu material objetiva e diretamente, o historiador está subjetivamente limitado porque ele é uma parte do que estuda e tem de levar em consideração as ações de Deus no tempo e espaço, considerar o papel do homem na história como um agente livre, e compreender que seus dados são indiretos. A história como um agente livre, e compreender que seus dados são indiretos. A catedral de São Pedro em Roma, as catacumbas, uma bula papal e mosaicos na Ravena são exemplos de história como informação.

A palavra história vem da palavra grega historia, que é derivada do vergo grego historeo. Esta palavra foi usada pelos gregos da Ática e significava originalmente, aprender pela pesquisa ou investigação. Paulo usou o termo em Gl 1:18 para descrever seu encontro com Pedro em Jerusalém. Isto leva a um terceiro significado de história, como investigação ou pesquisa para checar e achar dados acerca do passado. História é uma ciência distinta com um processo de pesquisa. O historiador testa a autenticidade, genuinidade e integridade de sua informação por meio de um cuidadoso estudo do background e texto e seu material. Induções válidas podem também ser desenvolvidas à medida que o estudioso vê padrões aparecerem objetivamente em seu material.

O historiador que, dessa forma, procura respostas para as questões do quem? que? e quando? ou onde? deve então considerar a pergunta pelo significado de seus dados. Os gregos, que usaram a palavra historikos como outro termo para história, pensavam na história como sendo o produto da investigação. Isto sugere a interpretação como um quarto significado de história. Ela é a reconstrução subjetiva do passado, à luz dos dados colhidos, dos pressupostos do historiador e do “clima da opinião” do seu tempo, além do elemento da liberdade da vontade humana. Tal reprodução nunca consegue contar totalmente o passado, porque uma vez que ela é parcial, é sujeita a erros e pressuposições humanos. Um consenso acerca do passado irá emergir, porém, à medida que um historiador examina o trabalho de outro. Estudantes, em salas de aula, geralmente estudam este tipo de história. Embora a verdade absoluta acerca do passado possa ser objeto de frustração para o historiador, ele irá, conforme seus dados permitirem, apresentar a verdade acerca do passado de um modo objetivo e imparcial.

Desta discussão o estudante deverá ficar cônscio de que história pode ser evento ou acontecimento, pesquisa ou processo e produto, ou interpretação. A história como evento, é absoluta, ocorrendo somente uma vez no tempo e espaço; mas história como informação, pesquisa e interpretação, é relativa e sujeita a mudança. A história pode ser definida como o relato interpretado do passado humano socialmente importante, baseado em dados organizados e reunidos pelo método científico a partir de fontes arqueológicas, literárias ou vivas. O historiador da Igreja deve ser tão imparcial na coleta de dados da história quanto o historiador secular, muito embora reconheça que ninguém pode ser neutro diante dos dados, uma vez que cada um tratará do material com uma estrutura própria de interpretação.

A história da Igreja, portanto, é o relato interpretado da origem, progresso e impacto do cristianismo sobre a sociedade humana, baseado em dados organizados e reunidos pelo método científico a partir de fontes arqueológicas, documentais ou vivas. Ela é a história interpretada e organizada da redenção do homem e da terra. Somente se esta definição for observada é que o estudante cristão de história poderá fazer um relato cuidadoso da história da Fé que ele professa. Neste ponto, os filhos da luz não podem ficar atrás dos filhos das trevas. Deus é transcendente em relação à criação, mas imanente na história e na redenção.


II – A Produção de uma História da Igreja

A – O Elemento Científico – A história da Igreja terá um elemento científico na medida em que o historiador eclesiástico usar o método científico. O historiador usa o labor científico do arqueólogo, que revela os dados remanescentes do passado que desencavou. O estudo da arte das catacumbas de Roma tem nos ensinado muito sobre a Igreja primitiva.


O autor de uma história da Igreja precisará ainda usar as técnicas da crítica literária para avaliar os documentos da história da Igreja. Ele terá que privilegiar as fontes originais, sejam elas levantadas pelo arqueólogo, mostradas pelos documentos ou contadas por testemunhas oculares. Todo este material, convenientemente avaliado, informa acerca das questões vitais do método histórico: que, quem, quando e onde. As duas últimas questões são importantes para o historiador porque os eventos históricos são condicionados pelo tempo e pelo espaço.

O trabalho do historiador é científico em relação aos métodos, mas não resultará em ciência exata porque sua informação acerca dos acontecimentos do passado pode ser incompleta ou falsa, lida à luz de seus próprios pressupostos e pelos de seu tempo e afetados pelos grandes homens. Ele é também um agente livre que é parte de seus dados. Deus como um ator na história inviabiliza a idéia de história como uma ciência exata.


B – O Elemento Filosófico – Os historiadores se dividem em escolas de histórias e filosofias da história conforme eles procuram significado na história. A reivindicação antiga era achar causação objetiva e científica no homem, natureza ou processo no tempo; mas os racionalistas posteriores procuram relacionar os dados a um ultimato ou absoluto sem tempo.

Geógrafos e economistas deterministas, juntamente com biógrafos constituem três das mais importantes escolas de história. William W. Sweet, da escola pioneira de interpretação da história da igreja, em seus livros sobre a história da igreja americana fez da geografia o fator determinante. A obra de Carlyle sobre Cromwell ilustra a escola biográfica ou “grandes homens” de história, quando ele tornou a Guerra Civil Inglesa de meados do século XVI uma reflexão de Cromwell. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, na qual ele alega que o protestantismo levou ao surgimento do Capitalismo, é um exemplo da escola econômica da interpretação. Tais intérpretes da história olham para as respostas à história no homem, natureza ou processo.

Filosofias da história podem ser melhor consideradas sob três categorias:

1 – Um grupo pode ser chamado de pessimista. Estudando apenas a história “debaixo do sol”, estes historiadores adotam uma interpretação materialista da realidade, obcecados que estão com o fracasso do homem na história.

“A Decadência do Ocidente”, (The Decline of the West) de Oswald Spengler (1880-1936), ilustra bem este tipo de interpretação. Spengler interessava-se mais pelas civilizações do que pelas nações. Cada civilização, dizia ele, passa por um ciclo de nascimento, adolescência, maturidade, decadência e morte. A civilização ocidental, a mais nova das civilizações, está em seu período de decadência. Morrerá logo e, com ela, morrerá também o cristianismo. Obcecados com a idéia de fracasso do homem, pensadores como Spengler não vêem qualquer progresso na história. Suas interpretações podem ser simbolizadas por uma série de ciclos idênticos superpostos um ao outro, onde o Tempo é cíclico.

2 – Um segundo grupo pode ser classificado de otimista. Sua leitura da história pode ser simbolizada por um gráfico ascendente ou por níveis crescentes de uma espiral. A maioria dos intérpretes otimistas é humanista: vêem, pois, o homem, como o fator determinante principal da história. Em geral aceitam a evolução biológica e social e vêem o Tempo como linear.

A obra de Arnold J. Toynbee (1889-1975), um importante filósofo contemporâneo da história, ilustra este tipo de interpretação. Toynbee concorda com Spengler acerca da importância de se estudar a história das civilizações. Contrariamente, porém, cria que toda civilização marcha para uma meta: uma terra que seja uma província do Reino de Deus. A despeito de sua abordagem claramente espiritual da história, ele aceitava a crítica bíblica contemporânea e a teoria da evolução.

Outro otimista, Georg Wilhelm Fredrich Hegel (1770-1831), o famoso filósofo alemão do século XIX, via a história como o desdobramento do Espírito Absoluto no desenvolvimento da liberdade humana. O progresso acontece por um processo em que séries sucessivas de contradições se reconciliam até que o Absoluto se manifeste plenamente na história.

Outro pensador do século XIX, Karl Marx (1818-1883), também pertence à categoria dos otimistas. Apropriando-se da lógica de Hegel, ele rejeitou a interpretação que este fazia da realidade. Marx propôs que a matéria em movimento é a única realidade e que todas as instituições humanas, inclusive a religião, são determinadas pelos processos econômicos de produção. Para ele, uma série de lutas de classe culminaria na vitória dos operários e no estabelecimento de uma sociedade sem classes. Observe-se que a ênfase de Marx no poder do homem para redimir-se a si mesmo e ao mundo aproxima-se das propostas de Toynbee e Hegel.

3 – O terceiro grupo de intérpretes, em que o autor se coloca, pode ser descrito como otimista pessimista. Estes historiadores concordam com a ênfase dos pessimistas no fracasso do homem não-regenerado; à luz da revelação e da graça divina, são porém, otimistas em relação ao futuro do homem.

Os otimistas pessimistas abordam a história como teístas bíblicos e procuram encontrar a glória de Deus no processo histórico. A história torna-se um processo de conflito entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo, no qual o homem não tem qualquer esperança fora da graça de Deus. A obra de Cristo na Cruz é a garantia final da vitória certa do plano divino para o homem e para a terá, quando Cristo retornar.

A Cidade de Deus, uma defesa e uma exposição do Cristianismo por Agostinho (354-430) um dos Pais da Igreja, ilustra bem esta interpretação, embora muitos cristãos não concordem com a colocação do Milênio no atual período da Igreja. A majestade da concepção agostiniana reside na sua atribuição da criação ao Deus soberano. A extensão ou escopo da filosofia da história em Agostinho abrange toda a raça humana, ao contrário de favorecer a nação germânica, como em Hegel, ou a classe operária, como em Marx. Agostinho sustenta que o curso da história humana tem o seu centro na Cruz; a graça que flui dela opera na Igreja Cristã, o Corpo invisível de Cristo. Os cristãos, com a força divina que os fortalece, colocam-se ao lado de Deus na luta contra o mal até que a história alcance a sua consumação no retorno de Cristo.


C – O Elemento Artístico – Finalmente, o historiador deve procurar ser o mais artístico possível na sua apresentação dos fatos. Os historiadores modernos não têm se empenhado em fazer uma apresentação literariamente agradável da história como deveriam.


III – O Valor da História da Igreja

A história da Igreja será apenas um enfadonho exercício acadêmico de recordação dos fatos, se não se descobrir o seu valor para o cristão. Os antigos historiadores tinham uma grande apreciação pelos valores pragmáticos, didáticos e morais da história, o que não caracteriza a maioria dos historiadores modernos. O estudante consciente dos valores apreendidos no estudo da história da Igreja Cristã tem bons motivos para se interessar por este setor particular da história humana.


A - A História da Igreja como uma Síntese - Um dos valores fundamentais da história da Igreja está na correlação que ela faz entre os dados fatuais do passado do Evangelho, e a proclamação e aplicação futura deste Evangelho numa síntese atual que nos ajuda a compreender nossa grande herança e a inspiração para esta nova proclamação e aplicação. A história da Igreja mostra o Espírito de Deus em ação através da Igreja durante os séculos de sua existência. A teologia exegética está intimamente ligada à teologia prática na medida em que o estudante percebe o impacto da teologia sistemática sobre o pensamento e ação humana no passado.


B – A História da Igreja como um Auxílio para a Compreensão do Presente - A História da Igreja é também valiosa como explicação do presente. Podemos compreender melhor o presente se conhecermos as suas raízes no passado. A resposta à intrigante questão da presença de mais de 250 grupos religiosos nos Estados Unidos pode ser encontrada na história da Igreja. O princípio de separação surgiu na história da Igreja com a Reforma. É interessante remontar ao passado da Igreja Episcopal Protestante e ver na luta entre o poder real e o papado a origem da Igreja Anglicana. O metodista se interessa pelos primórdios de sua Igreja no reavivamento wesleyano que acabou por provocar a separação do metodismo da Igreja Anglicana. Os seguidores da fé reformada ou presbiteriana se deliciarão ao traçarem a origem de sua Igreja desde a Suíça. Assim tornamo-nos conscientes de nossa herança espiritual.

Crenças e práticas litúrgicas diferentes tornam-se mais palpáveis à luz da história pretérita. Os metodistas se ajoelham diante do altar para a Comunhão porque durante muito tempo foram uma igreja dentro da Igreja Anglicana e Wesleyana, relutante em romper com a Igreja Anglicana, mantinha seus usos litúrgicos. Ao contrário, os presbiterianos recebem a Comunhão assentados. As diferenças entre as teologias metodista e presbiteriana ficam mais evidentes quando se estuda as doutrinas de Calvino e de Armínio.

Os problemas contemporâneos da Igreja são geralmente iluminados pelo estudo do passado, pois existem padrões e paralelos na história. A recusa de muitos ditadores modernos em permitir que o seu povo tenha interesses particulares independentemente de sua vida pública no Estado é mais perceptível se se recorda que os imperadores romanos entendiam que quem tivesse uma religião pessoal estava ameaçando a existência do Estado.

A relação entre a Igreja e o Estado permanece problemática na Rússia, na China e nos estados satélites russos, de modo a não surpreender que estes estados persigam ao cristianismo, a exemplo de Décio e Diocleciano. O perigo óbvio de união da Igreja com o Estado, seja através do apoio estatal a escolas paroquiais, seja através do envio de embaixadores ao Vaticano, é iluminado pelo declínio da espiritualidade na Igreja e pela interferência do poder temporal na Igreja a partir do controle do Concílio de Nicéia por Constantino em 325. Tennyson, em seu poema Ulysses, nos relembra que “somos uma parte de tudo que encontramos”.

C – A História da Igreja como um Guia – A reparação dos males existentes na Igreja ou o evitar dos erros e dos costumes equívocos é outro valor do estudo do passado da Igreja. O presente é certamente o produto do passado e a semente do futuro. Paulo nos lembra em I Coríntios 10:6,11 que os eventos do passado devem nos ajudar a evitar o mal e buscar o bem. O estudo da Igreja Católica Romana na Idade Média revelará o perigo do eclesiasticismo contemporâneo que parece insinuar-se no protestantismo. Novas seitas aparecem geralmente como velhas heresias travestidas. A Ciência Cristã pode ser melhor compreendida depois de estudados o gnosticismo na Igreja primitiva e as idéias dos albigenses nos tempos medievais. A ignorância da Bíblia e da história da Igreja é a razão principal por que muitos se enveredam por falsas teologias e por práticas erradas.


D – A história da Igreja como um Força Motivadora – A História da Igreja também oferece edificação, inspiração ou entusiasmo, que estimula uma vida espiritual elevada. Paulo cria que o conhecimento do passado ajudava na vida cristã (Rm, 15:4). Ninguém estuda a brava postura de Ambrósio de Milão, ao recusar a Comunhão ao imperador Teodósio até que ele se arrependesse do massacre da multidão tessalônica, sem se sentir encorajado a lutar por Cristo contra o mal dos altos círculos políticos ou eclesiásticos. A disposição e a força que capacitaram Wesley para pregar mais de dez mil sermões e viajar milhares de quilômetros a cavalo são destaques a se considerar e desafios aos cristãos que dispõem de meios melhores para viajar e estudar, mas que deles não têm feito uso adequado. Pode-se não concordar com a teologia de Rauschenbusch, mas não se pode negar a inspiração que ela significou por seu interesse em aplicar o Evangelho aos problemas sociais. A história da vida de Carey foi e é uma inspiração para a obra missionária. O aspecto biográfico da história da Igreja é algo que inspira e desafia o estudante.

Há também edificação quando alguém toma consciência de seu passado espiritual. É muito bom o cristão tornar-se consciente de sua genealogia espiritual, como o é para o cidadão estudar a história de seu país a fim de que possa se tornar um cidadão consciente. Ao demonstrar o desenvolvimento genético do cristianismo, a história da Igreja é para o Novo Testamento o que o Novo Testamento é para o Velho. O cristão precisa se conscientizar dos principais desenvolvimentos do crescimento e progresso do cristianismo assim como da verdade bíblica. Desse modo, ele se sentirá parte do corpo de Cristo, que inclui um Paulo, um Bernardo de Claraval, um Agostinho, um Lutero, um Calvino, um Wesley ou um Booth. O sentido de unidade que surge do conhecimento da continuidade história produzirá um enriquecimento espiritual.

Alguém temeroso pelo futuro da Igreja nos países onde ela é perseguida se fará mais esperançoso na medida em que perceber a indestrutibilidade da Igreja em tempos passados. Nem a perseguição externa, nem a incredulidade interna, nem a teologia falsa permanecerão diante da força perene da renovação que se observa na história dos reavivamentos da Igreja, Mesmo os historiadores seculares reconhecem que o reavivamento wesleyano foi o instrumento que salvou a Inglaterra de uma revolução semelhante à Francesa. Para quem vê o poder e Deus operando na história passada, o estudo da história da Igreja oferece uma influência estabilizadora num tempo de secularismo.

Nós devemos lembrar, contudo, que a igreja pode ser destruída em uma área particular ou pela decaída interna ou pela pressão externa, ou ambas juntas. A excelente igreja na antiga Cartago, os Nestorianos no século XVII na China e a Igreja Católico-Romana do Japão no século XVI, todos desapareceram.


E – A História da Igreja como uma Ferramenta Prática – A leitura da História da Igreja tem muitas utilidades para o obreiro cristão seja ele, ou ela, evangelista, pastor ou professor. O autor tem se comprazido em ver como a teologia sistemática se tornou mais inteligível ao estudante que estudou seu desenvolvimento histórico. As doutrinas da Trindade, de Cristo, do pecado e da soteriologia jamais serão suficientemente entendidas sem um conhecimento da história do período que vai do Concílio de Nicéia ao Concílio de Constantinopla, em 680.

Um farto material ilustrativo para sermões está à disposição do estudante da história da Igreja que tenciona pregar. Quer ele evitar a iminência dos perigos de um misticismo cego que coloca a iluminação cristã no mesmo nível da inspiração da Bíblia? Que ele estude, então, os movimentos místicos da Idade Média ou o quacrismo primitivo. Se ele procura avisar contra os perigos de uma ortodoxia desligada do estudo e da aplicação dos ensinos da Bíblia, deve atentar para o período da fria ortodoxia no Luteranismo a partir de 1648, que criou uma reação conhecida como Pietismo, um movimento que destacou o estudo sincero da Bíblia e a prática da piedade na vida diária.

F – A História da Igreja como Força Libertadora – Finalmente, a história da Igreja tem um valor cultural. A história da civilização ocidental é incompleta e ininteligível sem uma compreensão do papel da religião cristão no desenvolvimento desta civilização. A história do homem não pode ser divorciada da história de sua vida religiosa. Os esforços de déspotas através dos séculos em eliminar a religião redundam sempre na substituição da religião cristã por alguma religião falsa. Tanto Hitler como Stalin, ao enfatizarem a raça e a classe social, deram aos seus sistemas um elemento religioso.

Quem estuda a história da Igreja jamais se isolará em sua denominação. Ele sentirá a unidade do verdadeiro Corpo de Cristo através dos séculos. Ele se fará humilde quando encontrar os gigantes da sua herança espiritual e perceberá o quanto lhes deve. Ele se tornará mais tolerante para com aqueles que dele diferem em questões não-essenciais mas que, como ele, aceitam as grandes doutrinas básicas da Fé, como a morte vicária e a ressurreição de Cristo, ensinadas por Paulo em Atos 17:2,3 e I Coríntios 15: 3,4.

Historia do Cristianismo - Capítulo 02

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO – Parte II


IV – A Organização da História da Igreja

A – Divisões da História da Igreja

Por uma questão de conveniência, a história da Igreja pode ser organizada a partir dos seguintes tópicos:

1 – O Elemento político envolve as relações entre a Igreja e o Estado, bem como o ambiente secular da Igreja. Ninguém poderá entender como se inverteu na política francesa a situação criada pela Constituição Civil do Clero em 1790 para a situação criada pela Concordata de Napoleão, em 1801, sem saber como Napoleão destruiu o elemento democrático da Revolução Francesa e criou um novo sistema autoritário em que a Igreja (Católica Romana) era a única a contar por ser a religião da “maioria dos franceses”. Uma compreensão das forças políticas, sociais, econômicas e artísticas em operação na história é essencial para quem vai interpretar a história da Igreja. Estas informações serão dadas quando forem apropriadas.


2 – A propagação da fé cristã não pode ser ignorada. Ela envolve o estudo de missões estrangeiras, missões nacionais e missões urbanas, além da história das estratégias adotadas na comunicação do Evangelho. A história de missões tem seus heróis e mártires e é parte integrante da história da Igreja. A natureza essencial do encontro pessoal na propagação do cristianismo e as possibilidades ilimitadas para um crente fiel e seu Senhor se evidenciam num estudo da propagação da fé.


3 – Esta propagação provocou, em muitas circunstâncias, a perseguição à Igreja, perseguição esta começada pelo estado político-eclesiástico judeu, organizada sob base imperial por Décio e Diocleciano, integrada ao sistema muçulmano e ressuscitada pelos estados totalitários de hoje.

O estudo das perseguições revela a afirmação de Tertuliano de que o sangue dos mártires é a semente da Igreja. Este capítulo da história da Igreja, longe de desencorajar, mostra que a Igreja deu seus grandes saltos nos períodos de perseguição ou imediatamente subseqüentes.


4 – A administração é outro capítulo da história da Igreja. É o estudo do governo da Igreja, observando se é através dos bispos (episcopado [metodista}), através dos presbíteros (presbiterianismo), através da congregação num sistema de democracia mais direta do que representativa (congregacionalismo) ou através de qualquer sistema elaborado a partir desses três. Integra esse tópico também o estudo da posição do ministro e a evolução da distinção entre o clero e o laicato. Disciplina e formas de adoração (liturgia) estão ligadas a este ponto.


5 - A polêmica, que se refere à luta da Igreja para combater a heresia e manter firme a sua própria posição, é um importante aspecto da história da Igreja. E nela está envolvido o estudo das heresias adversárias e a formulação de doutrinas, de credos e da literatura cristã como resposta às heresias. A literatura dos Pais da Igreja é um campo extremamente rico para o estudo da polêmica, sejam os escritos de Justino Mártir, respondendo a argumentação de que o Estado era tudo na vida, ou o pensamento de Irineu, mostrando as heresias em que incorriam os vários tipos de gnosticismo. A maioria dos sistemas teológicos nasceu num período de luta para enfrentar as necessidades presentes. As épocas entre 325 e 451 e entre 1517 e 1648 se caracterizam pela presença da polêmica. Calvino desenvolveu seu sistema teológico na intenção de uma teologia bíblica que não apresentasse os erros do catolicismo romano.


6 – Ainda outra seção do nosso estudo pode ser chamada de práxis, por considerar o trabalho prático na vida do cristão. A vida familiar, a obra social e a influência do cristianismo sobre a vida diária são partes deste capítulo da história da Igreja, que envolve o estilo de vida da Igreja.


7 – O cristianismo não continuaria crescendo se parasse de atentar para o problema da apresentação ou propaganda. A apresentação trata do estudo do sistema educacional da Igreja, sua hinologia, liturgia, arquitetura, arte e pregação.

Cada um destes capítulos será discutido no período em que se fizer importante, embora nem todos sejam desenvolvidos detalhadamente em cada um desses períodos. E podem ser o centro de estudos fascinantes para aqueles que se interessam e tenham uma formação básica necessária.



B – Períodos da História da Igreja

O estudante deve se lembrar que a história é uma “túnica inconsútil”. Por isto, Maitland disse que história é um rio contínuo de eventos dentro da estrutura do tempo e do espaço. Para esta razão, a periodização da história da Igreja é apenas um recurso artificial para colocar os dados da história em segmentos facilmente perceptíveis e ajudar o estudante a guardar os fatos essenciais. O povo do Império Romano não dormia uma noite na era antiga e acordava na manhã seguinte na Idade Média. Há, então, uma transição gradual ente uma forma de vier de um período para outro.

É conveniente, então organizar a história cronologicamente.


HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA, 5 a.C. – 590 d.C.

O primeiro período da história da Igreja, revela a evolução da Igreja Apostólica para a Antiga Igreja Católica Imperial, e o início do sistema Católico Romano. O centro da atividade era a bacia do Mediterrâneo, que incluía regiões da Ásia, África e Europa. A Igreja operou dentro do ambiente cultural da civilização greco-romana e do ambiente político do Império Romano.


1 – O Avanço do Cristianismo no Império até 100

Nesta seção, a atenção será dada ao ambiente em que a Igreja nasceu. A fundação da Igreja na vida, morte e ressurreição de Cristo e sua fundação entre os judeus são importantes para se compreender a gênese do cristianismo. O crescimento gradual do cristianismo dentro dos quadros do judaísmo e a ruptura desses quadros no Concílio de Jerusalém antecedem a pregação do Evangelho aos gentios por Paulo e outros, e também a emergência do cristianismo como uma seita separada do judaísmo. Chamar-se-á atenção ainda para o papel fundamental exercido pelos apóstolos neste período.


2 – A Luta da Antiga Igreja Católica Imperial para Sobreviver, 100-313

Neste período, a Igreja teve sua existência constantemente ameaçada pela oposição de fora: a perseguição pelo estado romano. Os mártires e os apologistas deram a resposta da Igreja a este problema externo. A Igreja também enfrentou o problema interno da heresia, tendo os polemistas fornecido a resposta cristão a ela.


3 – A Supremacia da Antiga Igreja Católica Imperial, 313-590

A Igreja enfrentou os problemas decorrentes de sua reconciliação com o Estado sob Constantino e sua união com o Estado ao tempo de Teodósio. Logo ela se viu dominada pelo Estado. Os imperadores romanos queriam uma doutrina unificada a fim de unificar o estado e salvar a cultura greco-romana. Os cristãos, porém, não tinham conseguido criar um corpo de doutrina no período da perseguição. Seguiu-se, então, um longo tempo de controvérsias doutrinárias. Os escritos dos Pais gregos e latinos, autores de mentes cientificamente privilegiadas, apareceram como conseqüência de disputas teológicas. O monasticismo surgiu, em parte como reação e em parte como protesto contra a crescente mundanização da igreja institucional e visível. Nesta época, o ofício de bispo foi fortalecido e o bispo romano aumentou o seu poder. Ao término do período, a Antiga Igreja Católica Imperial transformou-se em Igreja Católica Romana.



História da Igreja Medieval, 590-1517

O palco da ação neste período muda-se do sul para o norte e oeste da Europa, isto é, para as margens do Atlântico. A Igreja Medieval, diante das levas migratórias das tribos teutônicas, lutou para trazê-las ao cristianismo e integrar a cultura greco-romana e o cristianismo como instituições teutônicas. Ao intentar isto, a Igreja medieval acabou por centralizar sua organização debaixo da supremacia papal, desenvolvendo um sistema sacramental-hierárquico que caracteriza a Igreja Católica Romana.


4 – O Surgimento do Império e do Cristianismo Latino-Teutônico, 590-800

Gregório I (540-604) emprenhou-se muito na tarefa de evangelizar as tribos teutônicas invasoras do Império Romano. A Igreja oriental, neste período, enfrentou a ameaça de uma religião rival, o Islamismo, que tomou muitos de seus territórios na Ásia e na África. Lentamente, a aliança entre o papa e os teutões foi dando lugar a organização da sucessão teutônica ao velho Império Romano, o Império Carolíngio de Carlos Magno. Este foi um período de pesadas perdas.


5 – Avanços e Retrocessos nas Relações entre Igreja e Estado, 800-1054

O primeiro grande cisma da Igreja aconteceu neste período. A Igreja Ortodoxa Grega, depois de 1054, seguiu seus próprios caminhos à base da teologia estática criada por João de Damasco (c. 675- c. 749) no século oitavo. A Igreja ocidental nesta época feudalizou-se e procurou, sem muito sucesso, desenvolver uma política de relações entre a Igreja Romana e o Estado que fosse aceita tanto pelo papa quanto pelo imperador. Por esta época, os reformadores de Cluny intentaram corrigir os males dentro da própria Igreja Romana.


6 – A Supremacia do Papado, 1054-1305

A Igreja Católica medieval chegou ao clímax do poder sob a liderança de Gregório VII (Hildebrando, c. 1023-1085) e Inocêncio III (1160-1216), conseguindo forçar uma supremacia sobre o Estado pela humilhação dos soberanos mais poderosos da Europa. As cruzadas trouxeram prestígio para o papado. Monges e freiras espalharam a fé romana e reconverteram dissidentes. A filosofia grega de Aristóteles, levada à Europa pelos árabes da Espanha, foi integrada ao cristianismo por Tomás de Aquino (1224-1274) numa espécie de catedral intelectual que se tornaria a expressão máxima da teologia romana. A catedral gótica era a visão sobrenatural e supramundana do período e fornecia uma “Bíblia de pedra” para os fiéis. A Igreja Romana seria apeada deste poder no período seguinte.


7 – O Ocaso Medieval e o Renascimento Moderno, 1305-1517

Tentativas internas para reformar um papado corrupto foram feitas pelos místicos, que lutaram para personalizar uma religião que se institucionalizara demasiadamente. Tentativas de reformas foram feitas também por reformadores primitivos, tais como os místicos, John Wycliffe e John Huss, concílios reformadores e humanistas bíblicos. A expansão geográfica do mundo, a nova visão intelectual secular da realidade na Renascença, o surgimento das nações-estados e a emergência da classe média se constituíram em forças externas que logo derrubariam uma Igreja corrupta e decadente. A recusa da parte da Igreja Romana em aceitar a reforma interna tornou possível a Reforma.



HISTÓRIA DA IGREJA MODERNA, 1517 e depois

Este período foi iniciado por um cisma que resultou na origem das igrejas-estados protestantes e na divulgação universal da fé cristã pela grande vaga missionária do século XIX. O palco da ação não era mais o mar Mediterrâneo nem o oceano Atlântico, mas o mundo. O cristianismo tornou-se uma religião universal e global.


8 – Reforma e Contra-Reforma, 1517-1648

As forças de revolta contidas pela Igreja Romana no período anterior irromperam agora e novas igrejas protestantes nacionais surgiram: a luterana, anglicana, calvinista e anabatista. Como resultado, o papado foi obrigado a tratar da reforma. Com os movimentos contra-reformadores do Concílio de Trento, dos jesuítas e da inquisição, o papado conseguiu brecar o avanço do Protestantismo na Europa e ter vitórias nas Américas do Sul e Central, nas Filipinas e no Vietnã e experimentando uma renovação. Só depois do Tratado de Vestfália (1648), que pôs fim à triste Guerra dos 30 anos, os dois lados se estabeleceram para consolidar suas conquistas.


9 – Racionalismo, Reavivamentismo e Denominacionalismo, 1648-1789

Durante este período, as idéias calvinistas da Reforma chegaram aos Estados Unidos da América do Norte através dos puritanos. A Inglaterra legou à Europa um racionalismo cuja expressão religiosa era o Deísmo. Por outro lado, o Pietismo apresentou-se como a resposta à ortodoxia fria; sua expressão na Inglaterra foram os movimentos quacre e wesleyano.


10 – Tempos de Reavivamentos, Missões e Modernismo, 1789-1914

Na primeira parte do século XIX houve um reavivamento do catolicismo. Sua contraparte protestante foi um reavivamento que criou um amplo movimento missionário no estrangeiro e provocou uma reforma social interna nos países europeus. Mais tarde, as forças destrutivas do racionalismo e do evolucionismo levaram a uma “ruptura com a Bíblia” que se expressou no liberalismo religioso.


11 – A Igreja e a Sociedade em Tensão desde 1914

A Igreja, em grande parte do mundo, enfrenta o problema do estado secular e freqüentemente totalitário. O modernismo sentimental do início do século XX deu lugar à neo-ortodoxia e seus sucessores. O movimento para a reunião das Igrejas continua. Uma corrente evangélica crescente está emergindo.

Será útil aprender e, periodicamente, revisar estas divisões básicas da história da igreja.

O próximo artigo desta série é A PLENITUDE DOS TEMPOS

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Historia do Cristianismo - Capítulo 03

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO


A Plenitude dos Tempos

Em Gálatas 4.4, Paulo chama a atenção para a era histórica da preparação providencial que antecedeu a vinda de Cristo a terra em forma humana: “Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho...”. Marcos também indica que a vinda de Cristo aconteceu quando estava tudo já preparado na terra (Mc 1.15). O estudo dos eventos que antecederam o aparecimento de Cristo sobre esta terra faz com que o estudante equilibrado reconheça a verdade das afirmações de Paulo e Marcos.

Na maioria das discussões sobre este assunto, esquece-se que não apenas os judeus, mas os gregos e os romanos também, contribuíram para a preparação religiosa para a aparição de Cristo. A contribuição grega e romana foi, na realidade, negativa, mas em muito contribuiu para levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a história de uma forma até então impossível.


01 – O Ambiente

A – Contribuições Políticas dos Romanos

A contribuição política anterior à vinda de Cristo foi basicamente obra dos romanos. Este povo, seguidor do caminho da idolatria, dos cultos de mistérios e do culto ao imperador, foi então usado por Deus, a quem ignoravam, para cumprir a sua vontade.

1 – Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido de unidade da espécie sob uma lei universal. Este sentido da solidariedade do homem no Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade de raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob pena do pecado e no fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo.

Nenhum Império do antigo Oriente Próximo, nem mesmo o império de Alexandre, tinha conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa organização política. A unidade política seria contribuição particular de Roma. A aplicação da lei romana aos cidadãos de todo o Império era imposta diariamente a todos os cidadãos e súditos do Império pela justiça imparcial das cortes romanas. Esta lei romana se originava da lei consuetudinária da antiga monarquia. Durante a primeira república no quinto século, antes de Cristo, esta lei foi codificada nas Doze Tábuas, que eram parte essencial na educação de toda criança romana. A compreensão de que os grandes princípios da lei romana eram também parte das leis de todas as nações sob o domínio dos romanos como praetor peregrinus, que era encarregado da tarefa de tratar com as cortes em que estrangeiros estivessem sendo julgados, tornou-se realidade para todos os sistemas jurídicos desses estrangeiros. Assim, o código das Doze Tábuas, baseado no costume romano, foi enriquecido pelas leis de outras nações. Os romanos de inclinação filosófica explicavam essas semelhanças pelo uso de conceito grego de uma lei universal cujos princípios foram escritos na natureza do homem e seriam descobertos por um processo racional.

Um passo adicional no estabelecimento da idéia de unidade foi a garantia de cidadania romana aos não romanos. Este processo foi principiado no período anterior ao nascimento de Cristo e foi completado quando Caracala concedeu , em 212, a todos os homens livres do Império Romano a cidadania romana. O Império Romano reunia todo o mundo mediterrâneo que contava na história de então; desse modo para todos os propósitos práticos, todos os homens estavam debaixo de um sistema jurídico, como cidadãos de um só reino.

A lei romana, com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, e no direito deste à justiça e à cidadania romana, além de sua tendência a agrupar homens de raças diferentes numa só organização política, antecipou um Evangelho que proclamava a unidade da raça ao anunciar a pena do pecado e o Salvador do pecado. Paulo lembrou aos da igreja filipense que eles eram membros de uma comunidade celestial (Fp 3.20).

2 – A movimentação livre em torno do mundo mediterrâneo teria sido mais difícil para os mensageiros do Evangelho antes de César Augusto (27 a.C. – 14 d.C.). A divisão do mundo antigo em grupos, cidades-estados ou tribos, pequenos e enciumados um do outro, impedia a circulação e a propagação de idéias. Com o aumento do poderio imperial romano no período da expansão imperial, uma era de desenvolvimento pacífico ocorreu nos países ao redor do Mediterrâneo. Pompeu tinha varrido os piratas do Mediterrâneo e os soldados romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. Este mundo relativamente pacífico tornou mais fácil a movimentação dos primeiros cristãos nas cidades onde pregavam o Evangelho a todos os homens.

3 – Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império. As estradas principais eram de concreto e duraram séculos. Elas passavam por montes e vales até chegarem aos pontos mais distantes do Império; algumas delas são usadas até hoje. Um estudo das viagens de Paulo indica que ele se serviu muito deste ótimo sistema viário para atingir os centros estratégicos do Império Romano. As estradas romanas e as cidades estrategicamente localizadas às margens dessas estradas foram uma ajuda indispensável na concretização da missão de Paulo.

4 – O papel do exército romano no desenvolvimento do ideal de uma organização universal e na propagação do Evangelho não pode ser ignorado. Os romanos adotavam a prática de usar habitantes das províncias no exército como forma de suprir a falta de cidadãos romanos atingidos pelas guerras e pelo conforto da vida. Os provincianos entravam em contato com a cultura romana e ajudavam a divulgar suas idéias através do mundo antigo. Em muitos casos, alguns destes homens converteram-se ao cristianismo e levaram o Evangelho às regiões para onde eram designados. É provável que a introdução do cristianismo na Bretanha seja um resultado dos esforços de soldados cristãos que acantonaram por lá.

5 – As conquistas romanas levaram muitos povos à falta de fé em seus deuses, uma vez que eles não foram capazes de protegê-los dos romanos. Tais povos foram deixados num vácuo espiritual que não estava sendo satisfeito pelas religiões de então.

Além disso, os substitutos que Roma tinha a oferecer em lugar das religiões perdidas nada mais podiam fazer além de levar os povos a compreenderem sua necessidade de uma religião mais espiritual. O culto ao imperador romano, que surgiu cedo na Era Cristã. Fazia um apelo ao povo somente como um meio de tornar tangível o conceito de Império Romano.

As várias religiões de mistério pareciam oferecer muito mais que isso como um meio de auxílio espiritual e emocional, e nelas o Cristianismo achou seu maior rival. A adoração de Cibele, a grande mãe terra, foi trazida da Frigia para Roma. A adoração desta deusa da fertilidade tinha ritos tais como o drama da morte e ressurreição do consorte de Cibele, Átis, o que parecia suprir as necessidades emocionais dos homens. O culto à Ísis, importado do Egito, era semelhante ao de Cibele, com sua ênfase sobre a morte e ressurreição. O Mitraísmo, importado da Pérsia, teve aceitação especial entre os soldados romanos. Tinha um festival em dezembro, um Maligno, um Salvador nascido miraculosamente – Mitra, um deus-salvador – além de capelas e cultos de adoração.

Todas essas religiões enfatizam o deus-salvador. O culto de Cibele conclamava seus adoradores ao sacrifício de um touro e o batismo de seus seguidores com o sangue desse touro. O mitraísmo possuía, além de outras coisas, refeições sacrificiais. Por causa da influência dessas religiões, elas pareciam algo esquisitas frente ao Cristianismo e suas demandas sobre o indivíduo. Quando muitos descobriram que os sacrifícios de sangue dessas religiões nada podiam fazer por eles, foram guiados pelo Espírito Santo a aceitar a realidade oferecida a eles no Cristianismo.

A consideração destes fatores permite concluir que o Império Romano criou um ambiente político favorável para a propagação do cristianismo nos primórdios da sua existência. Mesmo a Igreja da Idade Média não conseguiu se desfazer da glória da Roma imperial, acabando por perpetuar seus ideais num sistema eclesiástico.


B – Contribuições Intelectuais dos Gregos

Embora importante para a preparação para a vinda de Cristo, a contribuição romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada com o ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar um ambiente intelectual propício à propagação do Evangelho. Os romanos podem ter sido os conquistadores dos gregos, mas como indicou Horácio (65 a.C. – 8 d.C.) em sua poesia, os gregos conquistaram os romanos culturalmente. A mente prática dos romanos pode ter construído boas estradas, pontes fortes e belos edifícios, mas a grega erigiu os grandiosos edifícios da mente. Foi graças à influência grega que a cultura basicamente rural da antiga República deu lugar à cultura intelectual do Império.

1 – O Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um impacto real sobre o mundo. Os homens têm procurado desde a Torre de Babel criar uma língua universal para que possam comunicar suas idéias uns aos outros sem problemas. Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal. Os romanos mais ilustres sabiam grego e latim.

O processo pelo qual o grego se tornou o vernáculo do mundo é interessante. O dialeto ático usado pelos atenienses começou a ser usado amplamente no quinto século antes de Cristo com a solidificação do Império Ateniense. Mesmo depois de o Império ser destruído ao final do quinto século, o dialeto de Atenas, que se originara da literatura grega clássica, tornou-se a língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo helenístico, entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e espalharam através do mundo mediterrâneo.

Foi através deste dialeto de homem comum, conhecido como Koinê e diferente do grego clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento, o mesmo fazendo os judeus de Alexandria para escrever seu Velho Testamento, a Septuaginta. Só recentemente se soube que o grego do Novo Testamento era o grego do homem comum dos dias de Jesus Cristo, o que o diferencia do grego dos clássicos. Um teólogo alemão chegou mesmo a dizer que o grego do Novo Testamento era um grego especial criado pelo Espírito Santo para a produção do Novo Testamento.

Adolf Deissman (1866-1937) descobriu, no final do século passado, que o grego do Novo Testamento era o mesmo usado pelo homem comum do primeiro século nos relatos deixados em papiros sobre seus negócios e em documentos fundamentais de sua vida diária. Desde então, eruditos como James Hope Moulton (1863-1917) e George Millgan (1860-1934) deram uma base científica à descoberta de Deissman ao estudarem comparativamente o vocabulário dos papiros e o do Novo Testamento. Esta descoberta deu origem ao surgimento de inúmeras traduções modernas. Se o Evangelho foi escrito na língua do povo comum à época de sua produção, raciocinam os tradutores, deve ser colocado então na língua do homem comum de nossos dias.

2 – A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado à destruição as antigas religiões. Qualquer um que chegasse a conhecer seus princípios, fosse grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual tornou a religião tão ininteligível que a acabava abandonando em favor da filosofia. A filosofia falhou, porém, na satisfação das necessidades espirituais do homem, que se via obrigado então a tornar-se um cético ou a procurar conforto nas religiões de mistério do Império Romano. À época do advento de Cristo, a filosofia descera do ponto elevado que alcançara com Platão para um sistema de pensamento individualista egoísta, como é o caso do Estoicismo ou do Epicurismo. Na maioria dos casos, a filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dEle uma abstração; jamais revelava um Deus pessoal de amor. Este fracasso da filosofia do tempo da vinda de Cristo tornou as mentes humanas prontas para entender uma apresentação mais espiritual da vida. Só o cristianismo pode preencher o vazio na vida espiritual de então.

A outra forma pela qual os grandes filósofos gregos ajudaram o cristianismo está ligada ao fato de chamarem a atenção dos gregos para uma realidade que transcendia o mundo temporal e visível em que viviam, Tanto Sócrates quanto Platão ensinaram, cinco séculos antes de Cristo, que este presente mundo temporal dos sentidos é apenas uma sombra do mundo real em que os ideais supremos são ao mesmo tempo abstrações intelectuais, o bem, a beleza e a verdade. Insistiam que a realidade não era temporal e material, mas espiritual e eterna. Sua busca da verdade jamais lhes conduziram a um Deus pessoal, mas evidenciou que o melhor que o homem deve fazer é buscar a Deus através do intelecto. O cristianismo ofereceu a este povo que aceitava a filosofia de Sócrates e Platão, a revelação histórica do Bem, da Beleza e da Verdade na pessoa do Deus-homem, Cristo. Os gregos aceitavam a imortalidade da alma, mas não tinham lugar para ressurreição do corpo.

A literatura e história grega evidenciam claramente que os gregos estavam preocupados com os problemas do certo e do errado e com o futuro eterno do homem. Ésquilo (525-456 a.C.) em sua peça Agamenon, aproxima-se da afirmação bíblica (“Estai certos de que o vosso pecado vos há de atingir” – Nm 32.23), ao propor que os problemas de Agamenon eram conseqüência de seu mau procedimento. Os gregos, entretanto, viam o pecado como um problema mecânico e contratual; não o viam como um problema pessoal que afrontava a Deus e prejudicava os homens.

À época da vinda de Cristo, os homens tinham compreendido finalmente a insuficiência da razão humana e do politeísmo. As filosofias individualistas de Epicuro (341-270 a.C.) e Zenão e as religiões de mistério testemunham do desejo humano por um relacionamento mais pessoal com Deus. O cristianismo, com sua oferta de um relacionamento pessoal, forneceu aquilo para o que a cultura grega, em função de sua própria inadequação, tinha produzido muitos corações famintos.


3 – O povo grego também contribuiu no campo da religião para preparar o mundo a aceitar a nova religião cristã quando ela surgisse. O advento da filosofia grega materialista no sexto século antes de Cristo destruiu a fé das pessoas no velho culto politeísta como descrito na Ilíada e na Odisséia de Homero. Embora os elementos deste culto se baseassem no culto mecânico oficial, logo perderiam a sua vitalidade.

O povo voltou, então, à filosofia. Esta também, entretanto, perdeu o seu vigor. A filosofia tornou-se um sistema de individualismo pragmático, dirigido pelos sucessores dos sofistas ou um sistema de individualismo subjetivista, como se apresentava nos escritos de Zenão, o estóico, e Epicuro. Lucrécio (I século a.C.), o expoente poético da filosofia epicurista, fundamentava seus ensinos de recusa ao sobrenatural numa metafísica materialista que considerava até o espírito do homem um tipo desenvolvido de átomo. O estoicismo ainda considerava o sobrenatural, mas seu deus era de tal modo identificado com a criação que acabava caindo num panteísmo. Embora ensinasse a paternidade de Deus e a fraternidade do homem e sustentasse um elevado código de ética, o estoicismo deixava que o homem, por um processo racional, praticasse sua própria obediência às leis naturais que deveriam ser descobertas apenas pela razão.

Desse modo, os sistemas gregos e romanos de filosofia e religião contribuíram negativamente para avinda do cristianismo, ao destruírem as velhas religiões politeístas e demonstrarem a incapacidade da razão para alcançar Deus. As religiões de mistério, para onde muitos foram, familiarizaram o povo a pensar em termos de pecado e redenção. Então, quando o cristianismo apareceu, as pessoas do Império Romano estavam bem receptivas a uma religião que parecia oferecer uma perspectiva espiritual para a vida.


02 – Contribuições Religiosas dos Judeus

As contribuições religiosas para a “plenitude do tempo” incluem tanto a dos gregos e romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes que as contribuições de Atenas e Roma, como pano-de-fundo histórico, tenham sido par o cristianismo, as contribuições dos judeus formam a Herança do Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no sistema político de Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente grega, mas seu relacionamento com o Judaísmo foi muito mais íntimo. O Judaísmo pode ser considerado como o botão do qual a rosa do cristianismo abriu-se em flor.

Ao contrário dos gregos, os judeus não intentavam encontrar a Deus pelos processos da razão humana. Eles pressupunham Sua existência e lhe prestavam o culto que sentiam lhe dever. O povo judeu foi muito influenciado a estas atitudes pelo fato de que Deus o procurou e Se revelou a ele na história por Suas aparições a Abraão e a outros grandes líderes da raça. Jerusalém tornou-se o símbolo de uma preparação religiosa positiva para a vinda do cristianismo. A salvação viria, pois “dos judeus”, como Cristo diria à mulher no poço (Jo 4.22). Desta pequenina nação cativa, situada no caminho da Ásia, África e Europa, viria um Salvador. O judaísmo tornou-se o berço do cristianismo e, ao mesmo tempo, forneceu o abrigo inicial da nova religião.

A – Monoteísmo

O Judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar-se num sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os judeus caíram em idolatria. A mensagem de Deus para eles através de Moisés ligava-os ao único Deus verdadeiro de toda a terra. Os deuses dos pagãos eram apenas ídolos que os profetas judeus condenavam em termos muito claros. Este sublime monoteísmo foi espalhado por numerosas sinagogas localizadas em volta da área mediterrânea durante os três últimos séculos anteriores à vinda de Cristo.

B – Esperança Messiânica

Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na Terra. Esta esperança messiânica estava em claro antagonismo com as aspirações nacionalistas pintadas por Horácio (65-68 a.C.) no poema em que descrevia um rei romano ideal que haveria de vir – o filho que nasceria a Augusto. A esperança de um Messias tinha sido popularizada no mundo romano a partir desta firme proclamação pelos judeus. Até mesmo os discípulos depois da morte e ressurreição de Cristo ainda esperavam por um reino messiânico sobre a terra (At 1.6). Certamente, os homens instruídos que viveram em Jerusalém na época imediatamente anterior ao nascimento de Cristo tiveram contato com esta esperança. A expectativa de muitos cristãos hoje em torno da vinda de Cristo ajuda-nos a compreender a atmosfera da expectação no mundo judeu acerca da vinda do Messias.

C – Sistema Ético

Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu ao mundo o mais puro sistema ético de então. O elevado padrão proposto nos Dez Mandamentos se chocava com os sistemas éticos prevalecentes e com as práticas por demais corruptas dos sistemas morais pelos quais se pautavam. Para os judeus, o pecado não era o fracasso externo, mecânico e contratual dos gregos e romanos, mas era uma violação da vontade de Deus, violação esta que se expressava num coração impuro e, mais ainda, em atos pecaminosos, externos e visíveis. Esta perspectiva moral e espiritual do Velho Testamento favoreceu uma doutrina de pecado e redenção que realmente resolvesse o problema do pecado. A salvação vinha de Deus e não seria encontrada em sistemas racionalistas de ética ou nas subjetivas religiões de mistério.

D – O Antigo Testamento

O povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do cristianismo ao legar à Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento. Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a profunda dívida de Cristo e dos apóstolos para com o Velho Testamento e sua reverência por ele como a palavra de Deus para o homem. Muitos gentios também o leram e se familiarizaram com os fundamentos da fé judaica. Este fato é indicado pelos relatos de vários prosélitos judeus. Muitos desses prosélitos foram capazes de passar do judaísmo ao cristianismo por causa do Velho Testamento, o livro sagrado da nova Igreja. Muitas religiões, o Islamismo por exemplo, confiam em seu fundador por causa do seu Livro sagrado, mas Cristo não deixou textos sagrados para a Igreja. Os livros do Velho Testamento e os do Novo Testamento, produzidos sob a inspiração do Espírito Santo, seriam a literatura viva da Igreja.

E – Filosofia da História

Os judeus tornaram possível uma filosofia da história por insistirem que a história tem significado. Eles se opuseram a toda e qualquer visão que deixasse a história sem significado, como uma série de círculos ou como um processo de evolução linear. Eles sustentavam uma visão linear e cataclísmica da história, na qual o Deus soberano, que criou a história, iria triunfar sobre a falha do homem na história para trazer uma era dourada.

F – A Sinagoga

Os judeus também forneceram uma instituição da qual muitos cristãos esqueceram a utilidade, no surgimento e desenvolvimento do cristianismo primitivo. Esta instituição era a sinagoga judia. Nascida da necessidade decorrente da ausência dos judeus do templo de Jerusalém durante o cativeiro babilônico, a sinagoga se tornou parte integrante da vida judaica. Através dela, os judeus e também muitos gentios se familiarizaram com uma forma superior de viver. Foi também o lugar em que Paulo primeiro pregou em todas as cidades por onde passou no itinerário de suas viagens missionárias. Foi ela a casa de pregação do cristianismo primitivo. Há algo de convincente na idéia de que o sistema de governo praticado na Igreja primitiva tenha sido apropriado de antecedentes judaicos na sinagoga. O judaísmo foi, pois, o paidagogos para conduzir os homens a Cristo (Gl 3.23-25).

Os assuntos que têm sido discutidos demonstram o quão beneficiado foi o cristianismo, tanto quanto à época como quanto à região, no período de sua formação. Em nenhum outro lugar na história do mundo antes da vinda de Cristo houve uma região tão grande sob uma mesma lei e um mesmo governo. O mundo mediterrâneo tinha seu centro cultural em Roma. Uma língua comum tornou possível levar o Evangelho à maioria das pessoas do Império numa língua comum a elas e ao pregador. A Palestina, o berço da nova religião, estava estrategicamente neste mundo. Paulo estava certo ao mostrar que o cristianismo “não se fez em qualquer canto” (At 26.26), porque a Palestina era um importante cruzamento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via terrestre. Muitas das batalhas importantes da historiai antiga foram travadas por causa da posse desta estratégica região. Nunca nas épocas antiga e medieval, as condições para a propagação do cristianismo através do mundo mediterrâneo foram tão favoráveis como no período de sua formação e durante os seus três primeiros séculos de existência. Esta é também a opinião do principal erudito do mundo em missões.

Negativamente, através da contribuição do mundo grego e romano, e positivamente, através do judaísmo, o mundo foi preparado para a “plenitude dos tempos” quando Deus enviou Seu Filho para levar a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada pelo pecado. É significativo que, de todas as religiões praticadas no Império Romano ao tempo do nascimento de Cristo, apenas o judaísmo e o cristianismo tenham conseguido sobreviver ao curso dinâmico da história humana.

O próximo artigo desta série é SOBRE ESTA PEDRA

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